No último sábado, Anselmo Gusmão, Paulo Moreira Fernandes, Luís Felipe e Maria Carolina almoçamos uma feijoada imprudente no restaurante Bolinha. Anselmo e Paulo são dois amigos velhos; Luís Felipe é meu sobrinho e Maria Carolina, uma jovem lindíssima de olhos verdes e inteligência aguda, que espero Luís Felipe não deixe escapar.
Maria Carolina faz um mestrado em letras, não obstante seja médica nefrologista. Segundo nos disse, está a pesquisar a influência de Rui Barbosa na formação da estrutura da língua portuguesa no Brasil.
Anselmo e eu, em um achaque adolescente de exibicionismo, pronta e simultaneamente dissemos que temos algumas obras de Rui Barbosa, que, por raras, talvez lhe possam interessar, muito embora a maioria exista já digitalizada por aí.
Anselmo prometeu-lhe o empréstimo do Dicionário de Conceitos e Pensamentos de Rui Barbosa, de autoria de Luiz Rezende de Andrade Ribeiro — volume que também tenho e nem é tão raro assim —, e eu comprometi-me a emprestar-lhe o volume XVII, Tomo I, das Obras Completas de Rui Barbosa, no qual há um interessante discurso do autor feito ao Congresso Nacional na qualidade de Ministro da Fazenda.
Feitas as promessas, comida a feijoada e bebido o chopp, despedimo-nos: Luís Felipe e Maria Carolina para a vida; Anselmo, Paulo e eu, para meu apartamento, a fim de tomarmos café e fumarmos charutos.
Nós — três velhos quase contemporâneos do encilhamento — rasgamo-nos em elogios a Luís Felipe e à belíssima Maria Carolina e, para que me não esquecesse da promessa, separei o tomo a ser emprestado.
Anselmo passou a folhear o volume e a lê-lo em voz alta. Chamou-nos a atenção a qualidade dos parlamentares a quem Rui Barbosa discursava, o que se evidencia nas tão inteligentes quanto duras e educadas objeções que se lhe faziam; entre outros, lá estavam Campos Salles e Nilo Peçanha.
Embora sempre busquemos fugir ao reacionarismo inerente aos velhos, Anselmo e eu não resistimos a comparar a política de ontem com a de hoje.
Rui Barbosa, Campos Salles, Nilo Peçanha e outros foram substituídos por uma gente que ignora as regras mais básicas da polidez e da gramática; uma gente que não se envergonha de estar na companhia de criminosos; enfim, uma gente em tudo e por tudo desqualificada.
Bem fizeram Paulo e meu cão Tristram de, enquanto Anselmo lia e eu me lamentava, dormirem profundamente.
Que saudades estava deste deleite dominical no NEIM !!!
Grande Bernardo !!!
Estava com muita saudade de seus textos, Bernardo Telles! 🙌
Já deu outro tom ao meu domingo! Como sempre, o trio de amigos, belo almoço e o diálogo sobre algum tema interessante, nos remete ao melancolismo! Mas hoje, um melancolismo mais triste e extremamente necessário! É preciso haver comparações sim, é um grande favor, nos trazer esses fatos!
Como sempre, obrigada e parabéns! Beijo em Tristram e abraços à todos! Já torcendo por Luis Felipe!