Denis Diderot (1713-1784) foi o verdadeiro autor póstumo. O mais versátil dos pensadores do Iluminismo francês, capaz de redigir tratados sobre fisiologia humana e a arte do romance filosófico, além de empreender o maior feito editorial do século XVIII – a famosa Enciclopédia, concebida com o colega D´Alambert –, ele também deixou uma série de escritos que, por serem ousados até mesmo para a sua época, sedenta de materialismo e hedonismo, foram guardados (ou divulgados de forma restrita) para que fossem lidos somente em um futuro muito distante.
Este é o eixo temático da excelente biografia ensaística de Andrew S. Curran, Diderot e a arte de pensar livremente (Todavia, 388 páginas, R$ 84,90). Professor na Universidade Wesleyan e colaborador de diversas publicações de grande circulação, ele realizou uma pesquisa minuciosa sobre o autor de Jacques, o Fatalista e, com um estilo agradável e fluído, nos leva a um mundo onde o mote favorito era a conversação entre pessoas extremamente inteligentes, criadoras de obras literárias e filosóficas que mudaram o curso da história europeia.
No meio desse ambiente estimulante, Diderot se destaca por ser aquele que incorporou, tanto na vida como na obra, a verdadeira preocupação filosófica que orientou os escritos iluministas: como lidar com o caos intrínseco à nossa existência? Em um cosmos onde a ordem transcendente foi substituída por uma razão humana que consegue apreender, por meio da linguagem, as sutilezas do nosso conhecimento, o pensamento só tem duas opções: ou render-se à desordem que nos governa ou criar uma nova ordem em que podemos suportar a nossa finitude.