#vespeiro: O Domínio do Subsolo
O que determina um desastre ambiental não é o que a natureza provoca, mas o que o homem pode fazer para impedi-lo.
Em A Gaia Ciência (1882), Nietzsche escreveu que “guardemo-nos de dizer que a morte se opõe à vida. O que está vivo é apenas uma variedade daquilo que está morto, e uma variedade bastante rara”. O filósofo alemão apenas argumenta algo que poucos têm a coragem de entender: o fato de que, no nosso mundo, quem nos governa não são os vivos, mas sim os mortos.
Esta é a dura lição que o escritor inglês Robert Macfarlane aprendeu durante o percurso registrado no seu livro, Underland: A Deep Time Journey. Dono de um estilo que consegue refletir o espanto da natureza nos corações humanos (e vice-versa), Macfarlane faz parte de uma tradição literária anglo-saxã ainda pouco conhecida no Brasil: a dos relatos de viagem que, geralmente, exibem um virtuosismo poético digno dos melhores versos de W.H. Auden, Seamus Heaney e Ted Hughes. Não por acaso, esses nomes são também de poetas que têm uma relação paradoxal com ambientes aparentemente serenos e bucólicos, porém imersos em uma corrente subterrânea de morte e destruição, em geral provocada pelo próprio homem.