Ontem o nosso preclaro leitor Pedro Lemos ficou na bronca com uma nota dos estagiários do NEIM sobre o pragmatismo político de Milei.
Acusou-nos de fazer catequese, mesmo depois de um texto pornográfico do Martim sobre o ainda mais pornográfico Pietro Aretino.
Mas se tem algo realmente pornográfico é a cara de pau de Javier Milei.
Enquanto nosso querido leitor nos acusava de usar cilício, o extravagante presidente argentino estava na TV italiana dizendo ser “um católico que pratica um pouco de judaísmo”.
Tenho certeza que ninguém aqui está interessado nas crenças religiosas de Javier Milei.
Mas na entrevista à Rete 4, ele afirmou ter reconsiderado algumas posições em relação ao Papa para “construir um vínculo positivo”, afinal, segundo Milei, “Francisco é a pessoa mais importante da Argentina”.
Não surpreende ver Milei mudando o discurso. Estranho seria ele manter todas as maluquices que prometeu na campanha eleitoral.
O que se espera de um estadista (eu sei, quanta ingenuidade a minha!) é colocar o interesse do país acima dos próprios interesses. Não numa retórica estúpida com citações bíblicas. Mas como Péricles, o grande general da Era de Ouro da antiga Grécia.
Plutarco conta, em Vidas Paralelas, que certa vez Péricles foi insultado e injuriado em plena praça pública por um homem do povo. Ele o ignorou. O homem era insistente e passou segui-lo o dia inteiro, sem parar de xingar. À noite ele ficou exausto a ponto de mal conseguir andar. Péricles ordenou que seus soldados o levassem para casa carregado, sem nenhuma retaliação.
Outra das histórias de Plutarco sobre colocar os interesses públicos acima dos pessoais tem como personagem Alexandre o Grande. Depois de vencer Dario III e abrir as portas do Império Persa para dominar todo o Oriente Médio, ele soube que as exuberantes princesas estavam presas e à disposição. Mas se negou a vê-las para não desonrar sua vitória, cedendo ao atrativos das mulheres após ter vencido os homens.
Diz Plutarco: “na minha opinião, porque estimava ser coisa mais importante vencer-se a si mesmo do que derrotar os inimigos, não tocou em nenhuma, nem em outras moças ou mulheres, antes de desposá-las” (Vidas Paralelas: Alexandre; XXXVIII).
Primeiro os interesses de Estado. Depois o carnaval. Se bem que, para o Netflix, haveria de ser outro o motivo.
Em Sobre os meios de reprimir a cólera (455a-b), Plutarco tem ainda uma história interessante do pai da Filosofia. Conta que “todas as vezes que Sócrates percebia sua alma agitada por alguma emoção, e prestes a romper contra alguns de seus amigos, abrandava o tom da voz, por meio de um generoso esforço, e dava ao rosto um ar festivo e risonho. Eis como o filósofo reprimia os primeiros movimentos da imperiosa paixão que pretendia dominá-lo”.
Mas estávamos falando de Milei, o estadista possível numa época em que os interesses privados estão sempre à frente das coisas públicas.
Então, se não é possível ser coerente com a palavra dada, basta reconsiderar algumas posições para “construir um vínculo positivo”. Nem precisa de cilício.
Emocionado! Pode aumentar o valor da assinatura! Um espetáculo de defesa, olhar criativo e respeito a simples opinião. De fato muito melhor que os chiliques de outros “expert” de laureados folhetins que ao serem contrariados recorrem a bravatas, boletins de o correncias descrevendo o dessabor de ter sua opinião jogada no lixo e gritando aos quatro ventos o direito de liberdade de expressão!
Messi é a pessoa mais importante da Argentina. Dito isto, vou continuar a leitura...