Os imperdoáveis (1992), de Clint Eastwood, é um dos filmes mais subversivos já feitos. Quando usamos a palavra “subversivo”, não significa que tal pessoa é um “esquerdista”, como o pensamento corrente pode sugerir. A hegemonia da esquerda é tamanha que qualquer um que demonstre respeito pelos valores tradicionais do indivíduo se torna um subversivo. Portanto, Clint Eastwood, homenageado de uma retrospectiva de sua filmografia que começa esta semana no CCBB de São Paulo, preenche a todos os requisitos. Mesmo em seu trabalho como ator, nos filmes de Sergio Leone e Don Siegel, ele é o sujeito solitário que vai contra a corrente da multidão, manda tudo para as favas e decide enfrentar o mantenedor de inúteis que é o Estado, com as regras básicas de sobrevivência: coragem, um pouco de astúcia e muitas armas.
Com o passar do tempo, e conforme seus filmes solidificavam sua carreira como diretor, Clint Eastwood se tornou uma espécie de titã manco. Sua importância era inegável para a história do cinema, mas o que ele tinha a dizer? Não seria ele um fascista que defendia a justiça feita com as próprias mãos? Um apologista da violência, misógino que, por ter sido prefeito da cidade de Carmel, era um propagandista da classe dominante?
Todas as perguntas – feitas, obviamente, pelos críticos esquerdistas – foram demolidas em Os Imperdoáveis, o filme que deu a Eastwood quatro Oscars e a consagração da maturidade. Era, na verdade, uma película atípica: um western escrito por David Webb Peoples (o mesmo roteirista de Blade Runner e Herói por Acidente), de ritmo lento e que, aparentemente, contava a mesma história que Eastwood sempre contou – a do pistoleiro misterioso que chega numa cidadezinha do Oeste para uma recompensa e, depois de muitos tiroteios, acaba com a desordem existente no lugar.