Por Leandro Sarubo
Saiu na Folha que o YouTube deu, pela primeira vez, mais audiência do que a Globo e todos os canais abertos. O texto, sofrível, explica que o Google, esse prodígio, apresentou a “novidade” ao mercado na quarta-feira.
“A pesquisa, feita sem encomenda do Google e produzida de forma própria para estudo de mercado do instituto, afirma que é a plataforma é a número um entre os brasileiros com 18 anos ou mais, contabilizando todas as telas (TVS conectadas, desktop, celulares e outras plataformas de acesso). Somente em televisores com internet, a pesquisa do Ibope diz que mais de 75 milhões de pessoas assistem o YouTube dessa forma, seja para ouvir música ou qualquer outro tipo de conteúdo. Somadas, as emissoras, segundo o dado, são vistas por 73 milhões”, diz o release publicado pelo jornal.
Estatística é como a Daniela Lima: passa qualquer recado adiante. O YouTube continua atrás da Globo na medição de audiência. Quem tem acesso aos números reais de mercado, sem interpretações e cotejos sacanas, sabe disso. Quem lê o Teleguiado e acompanha meu canal no WhatsApp, o único do Brasil com dados fiéis de consumo de mídia e áudios recheados de impropérios à imprensa gravados diretamente dos ônibus da Viação Gato Preto, sabe também. Mas o leitor leigo não sabe. E continua sem saber. Porque o compromisso da imprensa brasileira, seja no caderno de esportes, política ou TV, é com os sanduíches de presunto e queijo oferecidos nos coffee breaks dos eventos.
A primeira inconsistência do leva-e-traz da Folha é a ingênua frase “a pesquisa, sem
encomenda do Google…”. Seria surpreendente o Google reunir palermas da imprensa e executivos do mercado para apresentar números negativos. Seria ainda mais surpreendente se o Google admitisse publicamente que os números apresentados sofreram algum tipo de pressão. O ibope, de fato, não fornece dados exclusivos para seus clientes. O que ele faz é entregar números brutos, que podem ser torcidos e contorcidos por bons departamentos de inteligência de mercado. Manejando direitinho targets, regiões e plataformas pesquisadas pelo ibope é possível dizer qualquer coisa: até que a Daniela Lima é líder de audiência — ok, exagerei.
Outra nababesca burrice — da Folha, não do Google, que só se aproveita da sabujice e da indigência intelectual dos nossos jornalistas para emplacar pautas de interesse dele — é o paralelo entre o número de espectadores da TV aberta e do YouTube. Crer que todos os brasileiros têm TVs conectadas à internet é o mesmo que acreditar nas boas intenções do inquérito do fim do mundo, de Alexandre de Moraes. E mesmo que fosse verdadeiro o dado: quantos brasileiros usam o YouTube para assistir TV aberta? Convém lembrar: nossa população assina NET e Vivo para assistir novela das sete na Globo. E programas como o “The Noite com Danilo Gentili” alcançam, mensalmente, 100 milhões de views. O Google contou para a Folha quantos milhões de espectadores do YouTube assistem SBT, Band e Record? Claro que não. Por que fazer o trabalho da imprensa, afinal?
A CNN americana e o The Weather Channel ganharam milhares de espectadores na noite de ontem expondo repórteres e jornalistas ao furacão Milton. No Brasil, nenhum repórter molharia os sapatos. A cobertura seria baseada em releases, recados de WhatsApp e sanduíches de presunto. Sabuja, parva e ultrapassada, nossa imprensa é incapaz de confrontar as sugestões de pauta que recebe. A apuração foi substituída pela bajulação. A independência, pela submissão. Tudo passou a ser trabalho de relações públicas. No convescote oferecido aos jornalistas mortos de fome, cabe a você, leitor, a limpeza das migalhas.
Estamos todos perdidos.
Leandro Sarubo é chefe de roteiro do The Noite e criador do teleguiado.com.
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Estou sem paciência para a Globonews e outras. Vejo notícias na internet.
O pessoal do PravdaNews, ops, GloboNews, por enquanto não precisa se preocupar. A EBC está aí para eles, mas só até 2026