2005 - Beverly Hills - Primeira apresentação
(Um amigo me dizia: Oscar, seu cabelo parece uma mulher de perna aberta.)
03 de março de 2005. A primeira vez que eu subia no palco pra fazer stand-up. Também Nascia o Clube da Comédia Stand-up. O grupo não existe mais, mas tem sua importância. E muita.
Estávamos lá: Marcelo Mansfield, Rafinha Bastos, Marcela Leal, Marcio Ribeiro, Henrique Pantarotto (que não tá na foto) e eu.
Subimos ao palco pela primeira vez em março daquele ano. Os ingressos custavam R$ 5,00. Sim, além de barato, o real ainda valia alguma coisa.
O local era o Beverly Hills, o primeiro comedy club de São Paulo. Ironicamente, está fechando as portas este ano.
Flyer da estreia!
E, sem saber, a gente começava ali um movimento que mudaria a forma de fazer rir nos bares e teatros do Brasil.
Nosso sonho era simples: que existisse um comedy club em cada capital brasileira. Que a gente, e os que viessem depois, pudesse viajar o país fazendo o que mais amava: comédia.
Era uma época inocente, quase lúdica. Não havia qualquer polarização. Sequer falávamos de política no palco simplesmente por não haver necessidade. Ou experiência.
Nessa está o Henrique Pantarotto, mas eu não…
Em 2006, Diogo Portugal entrou pro time. Numa apresentação já no Mr Blues, o Jô Soares foi nos assistir. Eu não estava em São Paulo, qualquer hora eu conto o motivo.
Curtiu o Diogo, chamou pro programa dele e o Diogo estourou. Passamos a lotar duas sessões por conta disso e ainda gravamos o primeiro CD de stand-up do país!
2006 - Flyer de lançamento do CD
Com a saída do Diogo, Danilo Gentili entrou no lugar justamente porque sempre chamávamos ele para cobrir alguma eventual falta de algum integrante.
2006 - Flyer do Danilo Gentili como open mic.
Agora em 2025, nem todas as capitais têm um comedy. E a comédia, infelizmente, tem enfrentado tempos difíceis.
Mas seguimos: nos levantamos, caminhamos até o microfone… e falamos bobagens. Algumas delas até com a pretensão de cutucar o modo como a sociedade enxerga o mundo, inclusive os vieses políticos.
É uma pena que, às vezes, essas bobagens sejam levadas ao pé da letra. Que figuras de linguagem como a ironia, o sarcasmo e a metáfora sejam interpretados como opinião pessoal. Às vezes são, mas nem sempre. E vocês sabem disso.
Isso não é bom pra arte. Nem pra liberdade de rir. A minha geração ouvia dos pais: “engole o choro.” Só adulto percebi o quanto isso feria o nosso emocional.
Hoje, as coisas mudaram bastante. É permitido chorar, mas rir... a gente tem que pensar duas vezes só pra ter certeza de que não está cometendo um delito. É como se nos dissessem: “engole o riso”.
Espero que um dia a gente possa resgatar um pouco da leveza e da inocência de lá atrás e que o público se sinta cada vez mais livre pra fazer o que sempre foi um impulso natural: rir sem manual de instruções.
Stand-up Raiz: Diogo Portugal, Danilo Gentili e Oscar Filho
20 anos depois no palco da DHouse, casa de shows do Diogo em Curitiba.
O Diogo já era velho 20 anos atrás. Nessa época até tinha gente que idolatrava político, mas a maioria tinha vergonha ao ser exposto. Hj a maioria tem orgulho. Na foto que vc não estava foi um momento difícil pra vc, olhei aqui nas minhas bolas de cristal. O Lula era amado e Bolsonaro completamente irrelevante. Eu era um moleque completamente imbecil, hj sou adulto. Nessa época aí a música respirava por aparelhos, morreu poucos meses depois. O funk proibidão era...proibidão, difícil de achar um cd pirata pra ouvir. A pornografia era no papel, hj tá em todos os lugares. Havia muita zueira e tchutcharia, mas também muito mais recato. Eu não sei se a coisa realmente piorou ou se é aquela nostalgia de quem tá ficando velho. Todo mundo ainda assistia jogos da seleção, o Vasco nunca tinha caído, ninguém conhecia ministros do supremo e ninguém entendia de política. Hoje todo mundo é especialista em tudo.
“E, sem saber, a gente começava ali um movimento que mudaria a forma de fazer rir nos bares e teatros do Brasil.”
E, sem saber, trilhávamos nosso caminho para a prisão …..
Esse é o Brasil de hoje.
Vida longa à comédia e às pessoas decentes e com valores reais