[Leia aqui a terceira parte do ensaio]
Em 1934, em Viena, Stefan Zweig, o escritor mais popular do mundo, viu sua casa invadida por uma tropa da SS, ostensivamente à busca de armas. Tratava-se de uma agressão absurda a um pacifista notório. O mundo de segurança e humanismo, que ele cultivou estava prestes a chegar ao fim. Claro que soubera que o fim se aproximava, já conversava sobre isso com seu grande amigo Joseph Roth uma década antes. Mesmo assim, oito anos depois da invasão da SS, em uma modesta casa em Petrópolis, junto com sua esposa, pôs fim à própria vida.
A trajetória deste homem é emblemática do que se passou em escala mundial, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. A necessidade de deixar um testemunho o motivou a escrever Autobiografia: o mundo de ontem (título original em alemão - O mundo de ontem: memórias de um europeu). "Não será uma autobiografia, mas o canto de adeus à cultura austro-judaico-burguesa que culminou com Mahler, Hofmannsthal, Schnitzler, Freud. Pois essa Viena e essa Áustria nunca mais serão as mesmas, jamais voltarão. Somos as últimas testemunhas", afirmara a um amigo em carta de junho de 1939 (posfácio de Alberto Dines, p. 389). O livro tornou-se a obra mais famosa sobre o Império Habsburgo. Esse mundo de ontem foi o único refúgio possível para Zweig e para tantos outros escritores, tradutores, fotógrafos e cientistas que se viram cuspidos pelo mundo que amavam - e que um dia haviam acreditado que os amava também.