[Leia a segunda parte do ensaio]
O Que Aconteceu ao Homem de Aço?, de Alan Moore, Curt Swan, George Pérez, Kurt Schaffenberger e Gene D’Angelo
Até o dia fatal de cerrarmos os olhos
não devemos dizer que um mortal foi feliz de verdade
antes dele cruzar as fronteiras da vida inconstante
sem jamais ter provado o sabor de qualquer sofrimento!
Sófocles [Édipo Rei, tradução de Mário da Gama Kury]
O que Acontece com o Homem de Aço? é um comentário de Moore sobre Crise nas Infinitas Terras e os rumos editoriais da DC.
É fácil entender o motivo disso. O Que Aconteceu ao Homem do Amanhã? é a última história do Super-Homem pré-Crise. É compreensível, portanto, que ela trate sobre o assunto. E a crise é uma história largamente interpretada em termos extra-narrativos: isso pode ser injusto com Marv Wolfman e George Pérez, mas a maxissérie não é lembrada pelo simbolismo mítico de sua história. Ela é lembrada como o primeiro reboot do universo DC: como o momento em que a editora decidiu oferecer grande parte dos seus personagens em sacrifício à cronologia coerente e ao seu novo público alvo [jovens adultos, e não mais crianças e pré adolescentes].
Moore aborda esse assunto frontalmente. A próprio texto de introdução da história é, ao mesmo tempo, uma homenagem às histórias de mundo imaginário da Era de Prata da DC [uma das mais conhecidas, aliás, é exatamente a morte do Super-Homem em Superman #149, que começa…
…com um aviso parecido com o de O Que Aconteceu ao Homem de Aço?] e uma crítica ao projeto editorial de Crise, ao insinuar que é impossível, ou ao menos bobo, dividir histórias de super-heróis como mais ou menos “verdadeiras”.