[Leia a terceira parte do ensaio]
Super-Homem Rei
Os homens todos erram
mas quem comete um erro não é insensato,
nem sofre pelo mal que fez, se o remedia
em vez de preferir mostrar-se inabalável;
de fato, a intransigência leva à estupidez.
–Sófocles [Antígona, tradução de Mário da Gama Kury].
Uma das principais características de uma tragédia é que a sua trama segue uma estrutura bem definida. Começa com a hamartia: uma falha do protagonista, frequentemente relacionada com o auto-conhecimento. É a introdução da história.
Ela é seguida de uma ascensão: o momento da história em que o protagonista da história se coloca em uma situação de destaque, se torna um símbolo ou um líder. Ele chega ao topo do arco: é o nó.
E aí que começa o desenlace. No ápice da “roda da fortuna”, ocorre a peripeteia: é a reversão de sua sorte, o momento em que forças superiores se impõe com base na sua falha original. A reversão da sorte é seguida do pathos: a longa queda do protagonista, na qual a sua falha, frequentemente, é purgada. Com a peripeteia, ou durante pathos, ou em seu final, o protagonista reconhece a sua falha: lhe é revelada uma verdade fundamental sobre ele mesmo. É a anagnorisis.
Com a catharsis, a purgação definitiva do protagonista. Às vezes isso exige que ele arranque os próprios olhos, mas o importante é que a falha tenha sido resolvida. A história conclui: a ordem está restabelecida.
Não dá para ignorar que A Linha da Selva, Para o Homem que Tem Tudo e O Que Aconteceu ao Homem de Aço? formam um arco trágico definido nesses termos.