#AQuedaDaGrandeBabilônia (3)
Sobre "Berlim", graphic novel de Jason Lutes, uma das obras-primas da nossa época.
[Leia aqui a segunda parte do ensaio]
*Por Vicente Renner
O Bode Expiatório
A violência que a escalada para os extremos suscita exige uma válvula de escape. Ela surge quando a reciprocidade do comportamento dos extremos faz com que eles se unam contra uma vítima. Essa vítima é o bode expiatório. Sobre ele se projeta a culpa pela crise; contra ele é dirigida a violência da sociedade.
Essa perseguição, por sua vez, canaliza o conflito para fora da sociedade. Permite, assim, que ele seja resolvido. Não por acaso, o bode expiatório pode se transformar em salvador: o seu sacrifício permite que a harmonia social seja restabelecida.
De todas os elementos girardianos de Berlim, esse talvez seja o mais importante — pela sua relativa ausência. No livro O Bode Expiatório, Girard descreve as características que favorecem a identificação pela turba daqueles que vão responder pela crise da sociedade. Elas não estão presentes em nenhum personagem da hq. Berlim não nos mostra o fim de sua crise: na hq, o mecanismo do bode expiatório não é executado.
Existem, no entanto, imolações desleixadas, líderes dispostos a usar sacrifícios para construir uma nova sociedade e, principalmente, vítimas inocentes.
Dois personagens, Theo Müller e Horst Wessel, e uma família judia, os Schwartz, nos mostram isso.