#AQuedaDaGrandeBabilônia (4)
Sobre "Berlim", graphic novel de Jason Lutes, uma das obras-primas da nossa época.
[Leia aqui a terceira parte do ensaio]
*Por Vicente Renner
Certamente falso,
possivelmente verdadeiro
Até agora, tratei de Berlim com base nos acontecimentos históricos que ela retrata, ou nos fatos que a sua narrativa nos apresenta. É uma análise basicamente objetiva: a República de Weimar era assim; os personagens da hq são esses; eles interagem dessa forma.
Isso, no entanto, esconde a grande limitação da interpretação de Berlim como uma analogia ao momento presente: o seu caráter reducionista. Como ficção histórica, Berlim é mais ficção do que história. Não é um exposição de fatos sobre a Alemanha dos anos 20 e 30, exposta de forma objetiva; é uma história sobre a vida de pessoas comuns em um momento de crise, apresentada através de símbolos.
Como eu disse, poucos personagens reais aparecem na hq. Hitler é um deles; mas também é aquele cuja participação é mais efêmera. Goebbles aparece com mais frequência. Mas ele era o líder do Partido Nazista em Berlim, e está lá mais para dar verossimilhança à história do que qualquer outra coisa. As figuras reais mais proeminentes, por outro lado, não são políticos. O principal é o jornalista Carl von Ossietzky, mas a cantora e dançarina Josephine Baker e, principalmente, o poeta Joachim Ringelnatz também são importantes para a história.
Isso é algo que se pode vislumbrar no próprio fato de que aqueles acontecimentos históricos foram articulados de uma forma que pode ser explicada pelas ideias de Girard. Se a hq, como eu tentei te convencer na terceira parte deste ensaio, é uma história sobre crise que desmascara o mecanismo do bode expiatório, é fácil supor que ela opera em termos míticos, através de símbolos.