Saiu o novo especial do David Chappelle.
Eu não assisti, mas eu sei que saiu pois eu vi um monte de colega comediante brasileiro, elogiando e dizendo como o Chappelle é “ousado, agressivo e subversivo”.
Quando sai especial do Chris Rock e do Ricky Gervais, isso sempre se repete. Você pode ver uma chuva de comentários no Twitter X dos comediantes dizendo “Aquela piada com aquele assunto proibido foi demais, esse tem coragem!”.
Que um comediante admire e se inspire em grandes profissionais é normal. O anormal é quando você faz parte do meio e sabe, por experiência própria, que boa parte dos comediantes brasileiros que elogiam esse tipo de subversão são os primeiros a entregarem de bandeja para a patrulha a cabeça de amigos que optam por caminhos semelhantes em suas premissas de piadas.
“Piadas (em português) matam”.
- Luca Mendes (comediante que você deveria conhecer)
Retribuir a cordialidade e gentileza de bons colegas com cusparadas não se limita apenas à estupidez da paixão ideológica que acaba com amizades.
É acima de tudo sobre pegar um atalho para ganhar vantagens, ou no mínimo manter a pobre sensação de esperança que a deslealdade talvez faça chegar um dia a tão aguardada vantagem. E essa vantagem pode ser qualquer farelo: um biscoitinho de uma “Mynd” da vida; uma pontinha como figurante no Multishow; um tapinha nas costas do colunista militante do UOL; ou uma baforadinha grátis na maconha da rodinha dos descolados. Tudo isso vale mais do que uma boa amizade.
Antes que me acusem de dar indiretas aqui, deixo claro que sou avesso a essa prática e coleciono uma série de desafetos por ser direto até demais. Se não cito nomes é porque não se trata de uma pessoa específica e sim de um perfil de comportamento tão reincidente que fica fácil descrever o tipo. Creio, inclusive, que profissionais de outras áreas que leem isto agora também vão se identificar.
Com raras exceções, os que rifam a liberdade do amigo e optam por ficarem reféns de panelinha são sempre as pessoas que não emplacaram na carreira como gostariam, mas que testemunharam gente medíocre que nunca conseguiu encher um show sem um amigo famoso no cartaz finalmente conseguir um especial no Netflix ou viram gente sem relevância fazendo publipost apenas porque repetiram a ladainha de sempre na roda das pessoas certas.
Geralmente são comediantes que, durante 15 anos de petismo, nunca fizeram piada com política. De repente viraram implacáveis humoristas políticos na era Bolsonaro e, agora, no governo Lula, não tocam mais no assunto ou continuam fazendo humor, mas somente com o Bolsonaro.
A esquizofrenia do “puxa, como esse gringo é polêmico e genial” vs “puxa, como esse brasileiro é polêmico e deve ser cancelado” não se limita apenas aos nossos comediantes. Ela também se estende aos pedágios dos executivos dos streamings no Brasil. Eu ia falar sobre isso aqui, porém eu acho melhor guardar para outra oportunidade.
Nessa publicação vou me limitar apenas a contemplar a peculiar metamorfose de quem, na ânsia em se sentar no banquete da beautiful people, rodeia a mesa e se transforma em baratas para se deleitar com qualquer migalha que cai no chão. É uma posição frágil demais, pois qualquer vacilo e eles serão esmagados justamente por aqueles que tentam adular.
Será que eles ainda terão permissão dessas pessoas para elogiarem o David Chapelle no seu próximo especial?
Eu já te adianto a resposta: Não.
Mudarão o seu discurso em breve.
Tal qual o burro olhando para a cenoura, eles apenas seguem a agenda que sequer sabem da onde vem. Previsível.
Anote e me cobre depois.
Se possível, escreve sobre como funciona o assassinato de reputação que vc já comentava há anos. E pense sobre a fazer uma série de posts como se fosse o documentário que vai lançar (sim, aquele)... Talvez seja interessante rolar aqui. Quando atingir uns trinta mil assinantes, pensa sobre charges e vídeos aqui e um cantinho pra comédia com humor. Com essa pegada do site será algo épico. Guedes, carne moída e algo na pegada que vc fazia no CQC pode colar muito. Só sugestões... Ninguém pediu, mas eu tô dando. Se quiser me mandar um charuto e um vinho, aceito também. Charuto normal.
Recomendo verem essa entrevista do Léo Lins, falando sobre esse assunto junto com a Madeleine Lacsko.
https://youtu.be/ZblhTGabqY4?t=574