#BarrosoExMachina
O onipresente ministro desceu dos céus para solucionar, de forma arbitrária, um impasse vivido pelos meros mortais
Ao contemplarmos o aborto sob a sombra da saúde pública, o coro trágico dos jornalistas lamenta os perigos e desafios que assolam a sociedade. Então, busca-se formas de aliviar o sofrimento e garantir que, ao enfrentarem essa escolha dantesca, as mulheres possam fazê-la com segurança, em um santuário, protegidas da fúria dos ignorantes.
No entanto, aborto é uma decisão pessoal da mulher, da portadora de um útero, exclusivamente. Ergue-se, assim, um monumento à autonomia, um altar sagrado no qual se celebra o direito inviolável de cada ser decidir seu destino. Nada de submeter o templo do próprio corpo aos decretos de forças externas, da agonia doentia dos fundamentalistas.
É uma ode à liberdade individual, cantada com a determinação de quem sabe que a soberania sobre si mesmo é o direito mais fundamental.
Mas há uma ironia trágica que se revela em toda essa glória sombria: a sociedade, que por um lado oferece um coro de apoio e segurança, por outro, concede o papel principal à mulher.
O destino está nas mãos de quem? A batalha é épica: a responsabilidade coletiva de proteger ou a sacralidade da escolha individual? Como harmonizar o canto do coro, com o monólogo da liberdade?
Na forma de um juiz da Suprema Corte, o deus ex machina se manifesta ao palco do drama humano e equilibra a balança do destino com um golpe da sua infinita sabedoria. Com sua autoridade divina, ele encara os mortais abaixo, cada um suspenso na tensão de sua própria narrativa, e põe fim à tragédia – enquanto a mãozinha do embrião esquartejado se afunda no sangue ainda quente desse nobre sacrifício.
Agora, voltando à realidade, o mais constrangedor é saber que Roberto Barroso prega o próprio ativismo pró-aborto dentro da PUC-Rio, que é uma Pontifícia Universidade Católica. Deveria ser algo extravagante, mas, se me lembro bem, aqui em São Paulo, o grupo Católicas Pelo Direito de Decidir (que não são exatamente católicas no sentido religioso do termo) sempre foi bem ativo dentro dos muros da PUC-SP.
"Vencemos o Bolsonarismo!" em um comício na UNE, é insuperável para qualquer ministro de Suprema Corte de qualquer país.
O STF criou um Olimpo para si mesmo, onde ignora o código de processo penal e a Constituição. Agora são deuses que ditarão regras como Zeus lança raios. As leis que antes eram mal e porcamente votadas a muito custo e suor na Câmara, Senado e sancionada na Presidência, agora é o STF que o faz, numa canetada só. E com mil pessoas nas masmorras.