Prato do dia: "Filé de protocolo ao molho de prazos".
Meu pai foi pra UTI três vezes em menos de 45 dias. Causa da primeira internação: infecção nos rins. Estamos monitorando de perto. Portanto, fizemos um exame de sangue e urina para saber se está tudo bem.
Fui até o site pegar o resultado do exame: Fora do ar.
Tentei contato pelo whatsapp, ninguém respondeu. Assim como fazia Graham Bell, peguei o telefone e liguei. QUINZE minutos depois:
- Preciso do resultado dos exames do meu pai.
- Apenas pelo site, senhor.
- O site está fora do ar, senhora.
- É verdade, senhor. Está fora do ar já há alguns dias...
Se ela já tinha essa informação, por que não encurtar a conversa, certo?
- O senhor pode vir aqui pessoalmente pegar o resultado.
Ah, então não era “SOMENTE pelo site”.
- Eu não posso ir para Atibaia agora, eu moro em São Paulo.
- Poxa...
...
Foi isso. Ela lançou um “poxa” e não respondeu mais nada. Não deu nenhuma solução. Eu não digo “poxa” nem quando eu derrubo a bola de sorvete da casquinha. Tive que tentar dominar a situação:
- E como eu posso fazer para conseguir o resultado se o site está fora do ar e eu não posso me locomover até aí como faziam os Bandeirantes?
- O senhor pode me ligar daqui 15 minutos?
Eram 10h55. Provavelmente ela entraria na hora do almoço e passaria a bucha pra outra pessoa resolver.
- Poxa, eu já estou com dificuldade em conseguir esse exame. Só na espera foram 15 minutos e...
- Como senhor? Não estou ouvindo...
- Eu disse que...
- Alô?
- Alô... Eu disse...
Desligou.
Como Bruce Banner tentando acalmar seu bondoso coração pra não virar um monstro verde que sai quebrando tudo que vê pela frente, olhei pra minha gata dormindo e liguei para a ouvidoria.
- Olha, ouvidoria... (Não era o nome da moça, mas gosto de chamá-la assim pra vocês), aconteceu isso, isso e aquilo...
- Senhor, o hospital pede um prazo de cinco dias ÚTEIS para responder.
- Ouvidoria, como eu posso aguardar cinco dias úteis (era sexta-feira) se eu preciso saber o resultado agora pra saber se uma colônia de bactérias não está crescendo nos rins ou na bexiga do meu pai?
- É o prazo que o hospital dá, senhor.
- E se ele tem que ser internado neste meio tempo? Se eu tivesse o resultado, eu ficaria mais orientado pra saber o que fazer.
- Infelizmente eu não posso acelerar o processo, senhor.
Claro que ela não pode. Ela é a ouvidoria, está ali só pra ouvir, não resolver. É como um psicanalista que ouve você falar que tem tesão na sua avó e o comentário dele é apenas “interessaaaaante”. (Tesão na avó é um exemplo, tá?)
Demoraram pra inventar um setor chamado Resolvedoria.
Conclusão: no sábado eu levei meu pai pro pronto-socorro porque sim, sem apresentar sintomas nem nada. Por pouco, por MUITO POUCO, ele não ficou internado mais uma vez. O médico me deixou ir pra casa com ele com a condição de que o antibiótico fosse administrado corretamente e voltasse daqui uma semana pra fazer um novo exame.
Quanto à ouvidoria... burocratizaram a burocracia. É a gourmetização dela. Eles pegaram a burocracia brasileira raiz e transformaram em uma experiência premium: agora, além de não resolverem, fazem você sentir que a culpa é sua por não ter se esforçado direito.
Essas situações estão acontecendo cada vez mais e nada fazem para melhorar.
Nada mais irritante que atendimento eletrônico. Vão apresentando opções, tipo digite 1, digite 2,.... até chegar em um ponto em vc não se enquadra. Nesse ponto, encerram o atendimento, não sem antes pedir para avaliar o atendimento.