#IncoerênciasRadicais
O subjetivismo é a arte de não ter razão – e impedir que os outros a tenham
Hélio Schwartsman também não gostou do editorial da Folha sobre a legalização das drogas, do aborto e da eutanásia.
Muita gente apostava que ele mesmo fosse o autor. Eu sempre achei improvável ele ter escrito um texto tão incoerente e cheio de petição de princípio.
Schwartsman é mais radical. Para ele, coerência e lógica são meras formalidades. O que vale mesmo são os desejos subjetivos.
O problema é relativizar os valores éticos para impor as próprias vontades morais. Porque todo discurso individualista termina na autoexaltação das próprias ideias. Schwartsman até concorda, em termos gerais, com o editorial da Folha. Sua crítica não está na razão ou coerência do texto, mas por não ter sido expresso na forma como ele queria.
No fundo, segundo o próprio Schwartsman, “o que importa é que as pessoas recebam sempre todas as informações relevantes e tomem a decisão que melhor lhes convier, segundo seus próprios valores e prioridades”.
As pessoas realmente devem ter o direito de receber todas as informações relevantes e tomar a própria decisão. Mas numa sociedade como a nossa, cheia de incoerências e valores distorcidos, o subjetivismo radical pode nos levar para caminhos perigosos.
O individualismo defendido por Schwartsman não se baseia numa ética social, mas num princípio moral baseado nas preferências e prioridades de cada pessoa. Até aí, cada um tem o direito de viver com suas certezas incoerentes, porém, jamais querer impor seu individualismo radical como princípio para toda a sociedade.
Posições morais não são baseadas nos nossos sentimentos, crenças ou reflexões sobre a vida, mas na natureza das coisas. Todos nós vivemos na mesma realidade, sob a mesma lógica e os mesmos princípios. É isso que permite a um povo ter um propósito comum e evitar radicalismos extremos ou espiritualidades exóticas propostas por guias, gurus, coaches, e até mesmo pela idolatria a líderes políticos.
Um dos motivos para o fracasso da democracia é o enfraquecimento de vínculos comunitários, que faz as pessoas transferirem a energia política para agrupamentos ideológicos que crescem, invariavelmente, a partir do sentimento de impotência diante de um estado que detém aquele “imenso poder tutelar” da crítica de Tocqueville. Porque quando perdemos a capacidade de nos mobilizarmos comunitariamente, o governo será sempre paternalista, controlador e totalitário.
Em suma, enquanto os debates públicos forem pautados por preferências subjetivas, ao invés de valores comuns racionais e autênticos, vamos continuar testemunhando a democracia se tornar o regime em que devemos confiar os interesses públicos a quem jamais confiaríamos os nossos interesses privados.
Uma hora o subjetivismo conduz à loucura e caos - cada um por si e deus por todos - chegando a um ponto em que esse deus será o próprio estado.
Resumindo: "O problema não é apanhar,o problema é apanhar pouco"