A maior prova de que Oppenheimer foi uma reviravolta na cultura cinematográfica é que, a partir de agora, vai ser moda falar das consequências da bomba atômica.
Era assim nos anos 1960, mas, depois do fim da Guerra Fria, o temor se foi.
Porém, com Putin e o Hamas, tudo voltou. E o triunfo do longa de Nolan despertou o que já estava apenas adormecido.
Depois do sucesso de Duna Parte Dois, o diretor Denis Villeneuve vai pelo mesmo caminho e anuncia que seu próximo filme será Nuclear War: A Scenario, baseado no livro de Anne Jacobson - uma espécie de aviso do que pode acontecer se algum maluco apertar de vez o botão vermelho nos quatro cantos do mundo.
(A continuação de Duna, intitulada O Messias de Duna, será também feita em paralelo com esse outro longa, segundo os representantes de Villeneuve. Detalhe: há também bombas atômicas na trama da saga)
No Brasil, a editora Cultura e Barbárie lançou recentemente um clássico sobre o tema, A Questão Atômica, escrito por Gunther Anders, também conhecido por aqui como o esposo de Hannah Arendt. Vocês podem adquiri-lo por meio da nossa livraria parceira, Trabalhar Cansa.
É livro essencial para quem ainda tem pesadelos com a bomba.
Preparem-se: a cultura da catástrofe está somente engatinhando.
Sobre isso - e muito mais - o NEIM já se antecipou e deixou para o leitor uma série de ensaios sobre Duna, com especial atenção aos filmes de Villeneuve.
Em pleno governo Reagan foi lançado para a TV, O Dia Seguinte - foi ao ar nos EUA em novembro de 1983, e veio pro Brasil com transmissão na Globo, realizada após o Fantástico. Seu impacto foi enervante e aterrador.
Depois veio o discurso do Reagan em Berlim, Chernobyl, e uma violenta recessão nos lados da União Soviética. Gorbachev fez o resto. A guerra fria terminava.
Nos anos 80, Paulo Francis falava muito em guerra atômica, terror nuclear e extinção da civilização. Volta e meia mencionava tal em suas colunas.
Talvez mobilizado pelo acirramento no período do tema Guerra Fria como resultado do investimento de Ronald Reagan no programa Guerra nas Estrelas, do Papa João Paulo II articulando com o sindicalista Lech Walesa a derrocada do comunismo na Polônia e Margaret Thatcher em dura queda de braço com o sindicato dos mineradores para tentar evitar que a Inglaterra escorregasse ainda mais na direção do terceiro mundo. Ganharam todos e o capitalismo enveredou outra dinâmica no período. A União Soviética jogou a toalha porque como a economia mambembe de todo regime socialista não enriquece nação alguma, não tinha dinheiro para acompanhar a nova corrida armamentista implementada por Reagan. Assim, admitiu que regime econômico sem competição e liberdade não gera riqueza pra ninguém, instalou um McDonald's na Praça Vermelha, passou a exibir Prince na MTV e se desmilinguiu: seu PIB hoje consegue ser menor do que o da Califórnia de Ronald Reagan e até da Espanha.
Francis falava muito na época em guerra atômica e corrida nuclear porque a atmosfera era essa mesmo (até em clips de música na MTV a coisa estava presente). Comentava sobre como muitos amigos com quem conversava a respeito viravam a cara diante de jornais com matérias sobre o assunto que ele mostrava. E sublinhava achar engraçado esse comportamento entre seus conhecidos
No programa Manhattan Connection que recordou Francis no início desse ano, Caio Blinder chegou a comentar sobre como ele dominava mesmo o assunto. E é verdade. Estava sempre em suas colunas. Ele falava muito a respeito.
Só espero que o tema nuclear, se vier a crescer, seja tratado pelo olhar de um Francis e não pelo "inteligentinho" afetação do Nolan. Já bastam os Spielberg da vida