Estou trabalhando grátis há mais de quatro meses. O que tem valido a pena? Uns posts do nosso site (não os meus). E o contato direto com os leitores, às segundas-feiras. A qualidade deles deve ser um reflexo da escassez. Se tivéssemos mais assinantes, os comentários talvez fossem piores.
Sobre a ruindade dos meus posts, a falta de entusiasmo pelo assunto é evidente. Passei de Tiziano, o pintor, para Paulo Pimenta, o cupincha do Hamas. Aliás, ele nem é o pior, porque sempre tratei de antissemitismo e Holocausto - inclusive no livro sobre Tiziano.
A matéria-prima do jornalismo é infecciosa. Por trinta anos, tive a sorte de escrever para a imprensa mantendo um distanciamento profilático - longe do Brasil e sem contato com as fontes. A pobreza dos temas, porém, é contagiosa, e acaba se espalhando por meu organismo. De tempos em tempos, de fato, tenho de largar tudo e me dedicar a atividades mais salutares.
O post do nosso assinante sobre as “virtudes negativas” do NEIM salvou o domingo. Mas deu um nó na minha cabecinha mole: como é que posso negar a imprensa sem negar igualmente a matéria de que ela é feita? Esse é o verdadeiro pepino do site, muito mais do que a falta de salário.
Acho que, talvez, você esteja comparando o atacado das suas excelentes crônicas no tempo da Veja, com o varejo meio raso dos posts modelo rede social. Não sei.
O que me faz ler os seus posts, prioritária e, por vezes, exclusivamente, é a minha admiração pela sua capacidade de expressar ‘um mundo’ em uma frase curta e objetiva sobre temas, geralmente, muito modorrentos. Não sei se estou certa, mas acho que o fato de você não ter frequentado a universidade por muito tempo, somado ao temperamento sarcástico e à boa orientação literária que recebeu de seus amigos, tornou sua escrita essa força da natureza.
“Negar a imprensa sem negar igualmente a matéria de que ela é feita”. Eu acho que só se você não entendesse a substância da imprensa. O que não me parece ser o caso. Acho que o que se nega é a forma que querem impor à matéria da qual a imprensa é feita. Ao degenerar a matéria com essa forma corrompida, deixa de ser imprensa.
E uma entrevista com Mario Sabino? 👀