[Leia a introdução do dicionário]
Por Ademir Luiz [texto] e Lucas Libanio [imagens]
Aba reta: técnica de camuflagem urbana pouco eficiente, com alto potencial de transformar o usuário em suspeito de qualquer coisa.
Abadá: traje cerimonial para dança do acasalamento. Vestimentas que representam símbolo de status em determinadas culturas primitivas. Protetor contra jatos de urina. Recomenda-se que seja customizado em função de tradicionalmente apresentar pouca qualidade têxtil e mau-gosto cromático.
Abandono parental: compra de cigarros de longa duração. Ação festejada na música “Billie Jean”, de Michael Jackson.
Abdução: aplicação de sonda anal sem consentimento.
Abraço digital: sanitarismo social.
Academia sombria: fenômeno social que fomenta a leitura de romances góticos por parte de adolescentes e jovens adultos motivados pelo desejo de vestirem roupas escuras com lugar de fala.
Acadêmico: profissional do ensino e da pesquisa que estudou durante décadas visando aprimorar sua capacidade de escrever e se expressar oralmente de modo a não ser compreendido.
Acordo ortográfico: muito barulho por nada. Mudou o que não precisava mudar, não simplificou o que precisava simplificar e não mexeu no queijo dos portugueses.
Acre: acrônimo de Área de Controle e Rastreamento Extraterrestre.
Action figures: hominhos para marmanjos com dinheiro para gastar.
Adorno: verdadeiro compositor das músicas dos Beatles que para disfarçar falou mal dos Beatles em sua obra teórica e compôs música erudita medíocre. Objeto decorativo que pode ser usado para enfeitar mesas, estantes e portas.
Agências de fact-checking: alfaiate de verdades. Empresas especializadas em investigar a veracidade ou não de notícias publicados na imprensa ou espalhadas em redes sociais, normalmente mantidas ou contratadas pelos maiores interessados no resultado politicamente correto da referida pesquisa. Ministério da Verdade terceirizado. Seus funcionários evitam pensar que o protagonista do romance “1984” era um profissional de “fact-checking”.
Ageplay: simulação de pedofilia praticada por adultos com idade mental infantil.
Agronegócio: indústria responsável pela continuidade do uso da expressão “cuspir no prato que come”.
Agrotóxicos: termo usado pelos ativistas sociais para se referirem aos defensivos agrícolas que salvaram a humanidade de voltar a passar por grandes períodos de fome, tão comuns no passado.
Água oxigenada: produto químico responsável pela fabricação de suecos em ritmo fordista.
Álcool em gel: lavagem de mãos à seco.
Alcoólicos Anônimos: entidade que teria minado a literatura americana do século XX se tivesse se popularizado antes.
Alexa: inteligência artificial mais educada do que você.
Alienígenas do passado: culto religioso televisivo produzido por leitores do livro “Eram os deuses astronautas”, de Erich Von Däniken, direcionado para espectadores que ignoram as centenas de fatos que refutam a referida obra.
Alpinismo social: replicar posições desconfortáveis típicas da atuação dos alpinistas de montanhas, como ficar de ponta cabeça, de lado, com um braço só, visando maximizar suas chances de ser bem-sucedido social ou financeiramente.
Alquimista: investidor de sucesso na bolsa de valores.
Alta costura: indústria comandada majoritariamente por desenhistas de ficção científica que não sabem costurar.
Amazon: justificativa perfeita para criação de leis antitruste.
Ambientalismo: nova religião secular que oferece salvo conduto para faltar na escola.
Amor líquido: boa sacada de filósofo sério que queria ficar pop e vender livros. Autoajuda para intelectuais.
Anabolizantes: dilema de Aquiles vendido no mercado negro.
Analfabeto funcional: alguém que não entendeu este verbete.
Anarcocapitalistas: virgens do sexo masculino que leem revistas e jornais especializados em economia, sem necessariamente possuir pretensão de empreender ou recursos para investir na bolsa de valores.
Androide: humanoide que parece, mas não é.
Anel de tucum: adereço vintage muito usado em acampamentos rurais e em salões paroquiais da periferia, normalmente vendido em conjunto com livros do Frei Beto e do Leonardo Boff. Muitas vezes os referidos livros vêm como brindes.
Anime: desenhos em que todos os personagens são igualmente cabeçudos, olhudos e com boca minúscula.
Anonymous: militantes ateus anarquistas quem usam como símbolo a máscara de um conspirador católico.
Antibiblioteca: parte não lida de sua biblioteca que permanece ao mesmo tempo em repouso e expansão.
Antimatéria: parte do conteúdo estudado que nunca é aproveitado nas provas.
Antivax: maior inimigo da indústria farmacêutica, anteriormente considerada inescrupulosa, mas, atualmente, redimida no imaginário coletivo.
Aparelhamento: preferência por trabalhar próximo dos amigos.
Aparelho ortodôntico: maneira de identificar um não-vampiro.
Aplicativo: soluções para vida que comprometem a memória de seu celular.
Apropriação cultural: prática enriquecedora que gerou magníficas trocas de experiências culturais entre diferentes grupos humanos, responsável por criações como o rock and roll, o futebol e o hábito de consumir sushi em praças de alimentação de shoppings centers mundo afora.
Área 51: local de armazenamento de aguardente. É comum que seus frequentadores descrevam visões de estranhos objetos voadores e inusitados seres humanoides telepatas, falando dentro de suas cabeças.
Área de preservação ambiental: a parte verde no Google Earth.
Arte contemporânea: arte moderna batida no liquidificador, mas sem aura.
Artista independente: produtor de obras culturais que não conseguiu patrocínio.
Artista performático: indivíduo sem inibição.
Assédio moral: o mesmo que assédio sexual, mas sem penetração.
Assédio sexual: abordagem invasiva de caráter sexual praticado por pessoas feias, pobres, desinteressantes ou com mau hálito.
Astrólogo: tratamento positivo se for Fernando Pessoa. Negativo se for Olavo de Carvalho.
Ativismo judicial: forma legal de tornar normas constitucionais ilegais.
Atrasados do ENEM: atração turística anual. Desculpa perfeita para parecer empático recriminando quem se diverte abertamente. Pessoas que perderam a desculpa do horário de verão.
Audiolivro: solução para deficientes visuais analfabetos em Braille.
Autoajuda: amortecedor emocional procurado fora de você, em livros, conselhos ou vídeos motivacionais alheios.
Autoestima: vaidade socialmente incentivada.
Aviãozinho: microempreendedor do ramo do transporte discreto de cargas de pequeno volume. Intermediário não imputável entre distribuidor e consumidor de produtos sem rótulo e tabela nutricional. Menor aprendiz sociologicamente aceito.
Ayahuasca: forma legal e socialmente festejada de consumir entorpecentes.
Ademir Luiz é doutor em História que escolheu a profissão porque era fã do Indiana Jones. Pós-doutor em Poéticas Visuais e Processos de Criação, seja lá o que isso signifique, medievalista sazonal, especialista na Ordem dos Templários, criador da Teoria da Conspiração que transformou a Vila do Chaves em uma visão do inferno de proporções dantescas, aluno do Padre Quevedo, foi exorcizado na Igreja Universal do Reino de Zeus. Escreve romances, contos, ensaios e quadrinhos, mas nunca durante a possessão.
Lucas Libanio é cartunista, ranzinza e antiquado. Desenha, junta tralha e tenta criar sua filha. O resto é detalhe - exceto seu Substack, que o leitor deve visitar com urgência aqui.
"Antibiblioteca: parte não lida de sua biblioteca que permanece ao mesmo tempo em repouso e expansão." 😅
Ótima parceria.
A melhor dessa leva: “Apropriação Cultural”!