No desenho eu tô mais tenso do que a foto, não?
Interessante o momento em que estamos vivendo de diversidade. Você liga a TV, rádio, reels do Instagram e é uma enxurrada de diversidade.
Nunca vimos tantos gays, lésbicas, trans, negros, asiáticos, portadores de síndromes, gordos, idosos, indígenas, judeus, ateus, surdos, mudos, deficientes, mendigos virando influenceres.
Uns me corrigirão que não se fala “surdos” e sim deficientes auditivos, outros me corrigirão falando que não é “influenceres”,1 mas sim influencers. O que torna o ato de se expressar algo meio insuportavelmente chato.
Tão chato quando as modas e tendências que as redes sociais “impõem” nos usuários. (Uns me corrigirão dizendo que não são tendências, são “trends”. Mas ninguém me corrigirá na questão do usuário, que é o termo que se usa para os drogados.
Voltando à diversidade, algo que eu respeito e admiro, eu vibro viver um momento onde gente do interior do Piauí tem a chance de virar um profissional em diferentes áreas. Graças à tecnologia e à diversidade.
Essa palavra tem por definição algo que seja diverso, que não é igual. É até irônica a luta pela diversidade sendo o Brasil um país tão miscigenado:2
Pardos: 45,2%
Brancos: 43,4%
Pretos: 10,2%
Indígenas: 0,8%
Amarelos: 0,4%
E seguimos lutando para que minorias tenham seu lugar ao sol e que conceitos sobre meritocracia sejam melhor entendidos e não propagados por proprietários de bolhas sociais.
Inclusive, a luta é tanta que pouco a pouco se inicia um mini campeonato de 'quem é mais diverso que quem'... No fim, todo mundo ganha. E todo mundo perde também. Beijo Dilma!
Grandes empresas apoiam a causa. Patrocinam, anunciam e fazem merchandising, parcerias usando comerciais, novelas, filmes, peças teatrais e vídeos na internet.
Já redes sociais promovem a diversidade através de trends. Existem até influenceres ensinando quais músicas, danças, filmes, gírias, comportamento, maquiagens, figurinhas e filtros que devem ser usados para que você bombe um reels ou um vídeo no Tiktok.
Se você entrar no Instagram agora verá uma trend acontecendo neste momento: criar imagens no estilo Studio Ghibli de animação japonesa a partir de uma foto já existente. Todo mundo tá fazendo isso. O Instagram está inundado.
E é aí que eu vejo o paradoxo. As pessoas querem ser diferentes postando coisas iguais. São sempre as mesmas músicas, danças, filmes, gírias, comportamento, maquiagens, figurinhas e filtros usados por um batalhão na internet que te fazem ver algo tão legal quanto um desenho inspirado num anime como algo banal.
Você vê seu amigo postando isso e pensa: “Legal, mais um. Próximo”. E aquilo que deveria ser especial, se torna nada autêntico. As redes sociais incentivam essa uniformidade disfarçada de diversidade.
Antigamente, muito se critica a televisão por monopolizar a informação e ditar o que deveríamos fazer. Hoje em dia, existe algo bastante democrático como a internet e estamos tratando-a como a televisão. A diferença é que na internet não tem ninguém ditando, somos nós mesmos nos ditando costumes sem sequer pensar nisso.
Aos poucos, o comportamento da sociedade vai sendo esculpido e forjado por nós mesmos que apenas rodamos numa roda de hamsters feito cachorros correndo atrás do rabo ansiosos atrás das tendências sem o menor questionamento vivendo dentro de uma diversidade completamente irrelevante.
Até porque, essa trend nada mais é que uma ação coordenada de merchandising fofo em que todo mundo utiliza pra conhecer a nova função do ChatGPT capaz de gerar imagens melhores.
Duvida? Olha o que foi anunciado ontem:
O cineasta Hayao Miyazaki que é dono do Studio Ghibli, não deu nenhuma declaração sobre essa trend, mas provavelmente deve estar odiando essa Romero Brittização do seu trabalho por conta de algo que ele disse em 2016 sobre inteligência artificial:
“Estou completamente enojado. Se você realmente quer fazer coisas assustadoras, pode ir em frente e fazer. Eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia ao meu trabalho. Sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida.”
Olha, não quero ser chato e ranzinza, tá? Pode ir lá postar a sua foto de família como anime, com certeza vai bombar! Mas se não bombar, não fique frustrado. Talvez seja porque você demorou demais.
Um dia na terra é um ano-luz na internet. Perdeu o bonde da diversidade!
Sobre algum possível questionamento relacionado à palavra “influenceres”... O certo tem que ser influenceres se o correto é hamburgueres!!!
Fonte: IBGE
1° de abril!!!
Excelente texto! Muito bom Oscar.
Mas uma pequena observação: você caiu na brincadeira de 1º de Abril do MacMagazine 😁 a Apple não adquiriu a OpenAI
Oscar, você foi efetivado no NEIM? Espero que sim. Continue por aqui.