#DiogoVaiEmbora
O fim de uma carreira inglória
Diogo vai embora. Diogo está sempre indo embora. O plano agora é escorregar no banheiro e arrebentar a nuca no canto da pia. Chega de imprensa. Chega de Lula, de Bolsonaro, de Arthur Lira, de Dias Toffoli, de Gilmar Mendes. Foram vinte e cinco anos disso. Chega. Nunca mais.
O pintor Rubens, em seus últimos anos, renunciou à glória e refugiou-se em seu castelo, dedicando-se a pintar para si, sobretudo paisagens campestres e sua mulher nua. O plano, depois de me restabelecer da concussão cerebral, é imitar Rubens - mas desprovido da glória, do castelo, do pincel e das paisagens campestres. Só me resta a mulher nua. Prepare-se, Anna.
Um dos temas do meu último livro, que deve sair em meados do ano que vem, é Rubens. Mais precisamente, o amor de Rubens por Tiziano, que também se enclausurou na fase terminal de sua vida. Rubens e Tiziano sinalizaram o fim dos tempos. Eu sinalizo apenas o fim do meu tempo.
Quanto ao NEIM, abandono meu papel aborrecido de comentarista diário e passo a ser um colaborador ocasional, como tanta gente boa que o site conseguiu reunir. Confio no talento dos meus sócios - os leitores devem confiar também. Vou embora, mas continuo aqui, escrevendo sobre Rubens e sua mulher nua. Se alguém quiser me encontrar, é fácil: ou estou trancado em casa, com um curativo na nuca, ou estou na segunda ruela à direita, passeando com o Palmiro.
Vc cansou de ser Don Quixote. Troque de lugar com Sancho Pança e divirta-se escrevendo de outro assunto que não a política brasileira. Eles sempre nos vencerão.
Eu considero você ainda jovem para desistir do jornalismo. Vinte e cinco anos é aposentadoria especial para professora do Ensino Médio. Você tem muita resistência e perspicácia para trabalhar e escrever suas crônicas diárias. Porém, se é este o seu desejo, vá em frente. Seja feliz fazendo o que gosta, porque a política no Brasil tende a piorar. Não há expectativa de melhora nesse país, somos reféns de gângsters . Sentirei muita falta das suas crônicas lacônicas e precisas. Apareça sempre para falar do Palmiro e de Veneza. Abraços.