#Dúvidas&Constrangimentos
A seriedade do combate à pedofilia parece bastante questionável
Os casos de escândalos sexuais envolvendo padres permanecem apenas como fofoca de sacristia. Poucos chegam a ser investigados. E os que ganham repercussão se tornam assuntos de disputas ideológicas, como o do padre Júlio Lancellotti.
Em 2020 a Arquidiocese de São Paulo criou uma comissão para investigar casos de abusos sexuais envolvendo padres. Segundo o Cardeal D. Odilo Scherer, a comissão segue as diretrizes estabelecidas pelo Vaticano, e são muito rigorosas.
Mas todo esse rigor parece ter ficado longe no caso do padre Lancellotti.
Antes do vídeo em que ele aparece com uma mão no celular e outra no carinho, cuja veracidade virou disputa entre peritos petistas e bolsonaristas, ele foi acusado de abusar de um menor, ex-interno da extinta Febem, em 2007.
Na época, o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh defendeu Lancellotti, negando a acusação de pedofilia. Alegou que o padre tinha sido vítima de extorsão. Ao largo de 8 anos, ele repassou ao menor mais de 600 mil reais, e chegou a lhe dar um Mitsubishi Pajero de presente. Ninguém questionou a origem de todo esse dinheiro. Será que o padre Lancellotti pegou emprestado do dízimo? Será que ele restituiu todo o valor?
A única coisa que sabemos é que ambos os processos, de abuso sexual e de extorsão, foram arquivados. E nenhum procedimento canônico rigoroso foi instaurado pela Arquidiocese para investigar as condutas do padre.
Embora cause comoção na internet, esses casos de abusos sexuais costumam acabar da mesma forma que acabou o que teve Lancellotti como protagonista.
Um dos dois últimos que ganharam repercussão na imprensa, foi o do ex-pároco da Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrate, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, ocorrido em 2021. Um menor de idade denunciou o padre Bartolomeu da Silva por estupro, e também por organizar orgias na sede da Associação de idosos, mantida por ele.
A Comissão da Arquidiocese investigou o caso. Diferente de Lancellotti, o padre Bartolomeu foi afastado, mas não houve nenhuma conclusão sobre as denúncias. Na época, as pessoas que testemunharam contra o padre na comissão arquidiocesana disseram à Revista Veja que foram mais questionadas sobre a vida pregressa da vítima do que sobre as condutas excêntricas do padre Bartolomeu.
O mesmo ocorreu na defesa do padre Lancellotti. Greenhalgh ressaltou a ficha corrida do ex-interno da Febem. Não deixa de ser curioso que um advogado petista recorra aos antecedentes criminais da suposta vítima. Além de ser meio esquisito sugerir que um passado de crimes pudesse justificar as condutas excêntricas de que Lancellotti estava sendo acusado.
O Ministério Público também abriu um procedimento criminal para investigar o caso do padre Bartolomeu. Dois anos depois, parece ainda não ter chegado a nenhuma conclusão.
O outro caso que ganhou espaço na imprensa foi o do frei dominicano Elvécio Carrara, de 54 anos, preso em São Paulo numa operação da polícia de Minas Gerais, em maio de 2023. Ele mantinha um projeto social voltado para jovens em situação de vulnerabilidade em São João del-Rei. Os policiais disseram que Carrara oferecia dinheiro para os jovens irem visitá-lo em São Paulo. O valor era decidido a partir de uma tabela de gratificação por certos comportamentos. Com o frei, foram apreendidos celulares e computadores contendo imagens pornográficas de adolescentes.
Depois de preso, o suspeito foi solto em duas semanas, com o pagamento da fiança.
A Ordem Dominicana a que o frei pertence informou, em nota oficial, que foi aberta uma investigação interna para apurar os fatos. Além disso, Carrara foi proibido de exercer o ministério sacerdotal e os trabalhos em que tinha contato com menores de idade. Porém, ainda segundo seus superiores na Ordem, o frei Carrara “estava desobedecendo algumas das disposições”.
Quase um ano após o ocorrido, ele responde a vários outros processos, mas não há mais notícias sobre o caso, nem se a justiça chegou a alguma conclusão. Também não há notícias sobre a investigação interna da Ordem dos Dominicanos.
Tudo sempre corre em segredo e esses assuntos são sempre envoltos em dúvidas e constrangimentos.
E a justiça, que está sempre alerta monitorando o que se diz nas redes sociais, não parece muito atenta para esses crimes abomináveis de exploração sexual.
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#SemConvicção
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Na esfera da Igreja Católica parece continuar havendo a ocultação sistemática de casos de abusos sexuais contra menores. Seria algo orquestrado pelo Departamento de Defesa dos EUA? (sic).
Os dois Diogos são a melhor parte deste site!