O Editorial da Folha de S.Paulo deste domingo - publicado na primeira página, o que significa que é a sua posição oficial - lamenta a opinião dos brasileiros, que, de acordo com levantamento do Datafolha (o braço estatístico da empresa), são cada vez mais desfavoráveis à legalização da maconha, do aborto e da eutanásia.
A posição do jornal, em defesa do uso recreativo do fumo assim como de outras pautas mais liberais do ponto de vista de costume (a repetir, aborto e eutanásia), é conhecida pelo menos desde a década de 1990. Quando, em 2018, Otavio Frias Filho, então diretor de redação do jornal, morreu, os leitores descobriram o verdadeiro motivo dessa agenda: Otavinho, como era conhecido tanto pelos íntimos e como pelos maledicentes, fumava todos os dias o cigarrinho de artista, no que era celebrado por seus pares – intelectuais, dramaturgos, escritores e outros aspirantes (isso não é fofoca sob hipótese nenhuma; o próprio Otávio admitiu tal atitude em seu livro de ensaios autobiográficos, intitulado apropriadamente de Queda Livre).
No afã de tornar sua causa palatável ao leitor comum, o jornal apela a um argumento tosco de autoridade. E de quem é a autoridade? Ora, pois, do The New York Times e da The Economist:
Dois dos mais importantes veículos de mídia no exterior, The New York Times e The Economist compartilham a opinião de que a legalização das drogas pode ser mais benéfica que as medidas de repressão à venda e porte de entorpecentes.
Em editorial publicado em fevereiro do ano passado, o jornal americano elogiou as iniciativas do presidente Joe Biden no sentido de tratar o uso de drogas como um tema de saúde pública. A visão mais liberal da publicação sobre o tema já vem de algum tempo. Em 2014, o diário nova-iorquino marcou posição, "após muita discussão entre os membros de seu Conselho Editorial", ao defender a descriminalização da maconha nos EUA em nível federal.
Como a Folha de S.Paulo não se garante em seu progressismo brazuca, moldado às margens da Rive Gauche do Tietê (ah, se esses sábios realmente soubessem o que Rousseau e Diderot pensavam sobre tudo isso, ficariam calados), ela precisa chamar os avôs, os pais e os tios para mostrar que, no fundo, o público brasileiro que respondeu à pesquisa é ignaro, numa atitude verdadeiramente reacionária.
O jornal brasileiro cita a posição do diário novaiorquino no distante ano de 2014, época em que a administração de Rudy Giuliani tinha alguma influência, e o ex-prefeito não havia sido possuído por Donald Trump e influenciava a política de “tolerância zero” em Nova York – e, por coincidência, o mesmo período em que o ar da cidade ainda era respirável. (Hoje em dia, quem quer que passeie pela Times Square sentirá uma marofa mais forte que no show do Planet Hemp. Saudades do velho e bom Rudy!)
Como se não bastasse, a Folha triplica a sua aposta naufragada, pois, do alto de seu pedestal, ela chamou o colunista Vinícius Torres Freire, que escancara sua decepção para com os “brasileirinhos”. O título do seu texto não deixa dúvida quanto ao que realmente pensa:
Brasil é uma aberração nas opiniões sobre aborto e drogas
Verdade seja dita, a manchete cumpre o seu papel de levar o leitor ao texto. Depois de brincar de malabares como um garoto no sinal da Nove de Julho com a Avenida Brasil, Torres Freire vai ao ponto, no último parágrafo do artigo:
Quem é adepto de mais luz e tolerância deveria pensar em um debate em outros termos.
Entendeu, leitor? Luz. Do século das luzes. Mas o Brasil vive nas trevas. O estagiário do NEIM acha que, sei lá, pelo menos Torres Freire poderia fazer um trocadilho com a situação do ENEL no centro de São Paulo – mas entende que é pedir demais para uma cabeça de planilha como a do iluminado da Barão de Limeira (onde o gerador elétrico desse pessoal deve funcionar sem problema algum, ao contrário de outros paulistanos que vivem na mesma região e que ficaram no escuro nesta semana).
O que a Folha abraçou neste editorial foi nada mais, nada menos que a “cultura da morte”. Ela começa defendendo as tais das drogas leves, e de uma linha para outra, afirma que o aborto não é tão ruim assim e que a eutanásia deveria ser uma opção a ser considerada. Para a pedofilia, é um pulo - e eugenia então, é melhor não mencionar, porque aí seria revelar a verdadeira lógica do jogo, certo?
Mas é a única conclusão a se chegar quando se lê o seguinte trecho:
Está, ademais, sobejamente demonstrada a ineficácia de reprimir o tráfico de drogas, encarcerando multidões que vão engrossar as hostes do crime organizado.
Seguir o que democracias avançadas preconizam seria proveitoso para o Brasil também no caso do aborto por opção. Fixar um período máximo, nas semanas iniciais da gravidez, em que o procedimento é permitido e pode ser realizado no sistema público de saúde equilibra o direito da mulher sobre o seu corpo com o do nascituro.
Seguindo a mesma premissa, é preciso permitir a eutanásia nos casos de decisão consciente de pessoas com doenças terminais.
A forte oposição na sociedade a essas pautas - mostrada pelo Datafolha e refletida no Congresso, ao qual cabe decidir sobre elas - não justifica o abandono do debate. As mesmas resistências, de origem em geral religiosa, foram vencidas mediante persistência e convencimento em outros países.
Questões de fé são questões privadas; não deveriam interferir no que outras pessoas julgam ser o melhor para si. Eis um outro ensinamento iluminista que, aos poucos, há de prosperar no Brasil.
Para dar uma amostra de que a posição oficial da Folha é, na verdade, a do iluminismo do Marquês de Sade, vamos abordar as incongruências exibidas pela própria reportagem a respeito do tema “suave” que é a maconha (porque se formos mexer com o aborto e a eutanásia, o nosso domingo vai pro saco). De acordo com estudos de pesquisadores como Ronaldo Laranjeira (professor titular de Psiquiatria da Unifesp), ou Valentim Gentil Filho (professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP), a maconha deve ser rechaçada como uma “substância leve”. De acordo com o professor Gentil Filho, a substância aumenta em 310% o risco de esquizofrenia quando consumida uma vez por semana desde a adolescência.
Em uma entrevista para o Valor Econômico concedida em outubro do ano passado, Laranjeira foi categórico quanto à sua experiência como especialista no tema:
Tenho tido pacientes graves do Brasil inteiro. A pessoa poderia ter um transtorno mental e a maconha piorou, ou ela começou a usar drogas e desenvolveu um transtorno mental. Se o único fator foi a maconha ou a cocaína, é uma questão de pesquisa. Mas há um consenso cada vez maior de que pelo menos 20% dos novos casos de esquizofrenia estão diretamente ligados ao consumo de maconha.
Claro que esse tipo de evidência não interessa para a esmagadora maioria dos jornalistas, mais preocupados em admoestar o público que considera ignaro, ignóbil e radical (e, claro, combater o “bolsonarismo fascista”, que simplesmente gozou com esse editorial). Fosse realmente transparente, a Folha de S.Paulo admitiria que advoga o uso das drogas não porque acredita nas liberdades individuais. Mas não faz isso, e por dois motivos:
Primeiro, porque a sua opção tem a ver com a liberdade dos jornalistas que compõem o seu staff, aqueles que continuam queimando tudo até a última ponta.
E segundo, porque, parafraseando Leandro Sarubo (que terá um artigo a ser lançado em breve no NEIM), comprova que o jornalismo brasileiro tem, sim, um lado. O lado do esgoto.
Moro em Nova York há 17 anos, e de uns três anos para cá, quando o governo do estado, tomou a decisao imbecil de descriminalizar o consumo da maconha, a cidade tranformou-se em algo repugnante.
Existem poucas coisas mais deprimentes do que você sair da estação do metrô às 7:15 da manhã, planejando o que tem que ser feito no trabalho e encara um bando fumando um “alface do demônio” ( como as minhas filhas chamam essa porcaria) para “ relaxar e criar coragem para trabalhar”!
Não sou cientista, nem matemático, mas me parece evidente que o aumento da violência no metro da cidade está ligado ao crescimento brutal do consumo dessa porcaria: o que tem de maluco conversando em voz alta com seus demônios interiores nos vagões é assustador!
Costumo dizer que eu perdi o direito de opinar sobre política brasileira quando decidi emigrar ( na verdade perdi o interesse por um debate tão rasteiro como o que se vê hoje) mas o Brasil já tem problemas demais com a droga sendo ilegal, e legalizá-la só vai aumentar exponencialmente esses problemas, inclusive com o risco de perder uma geração para o “ alface do demônio” e outras porcarias.
Excelente artigo. O progressismo quer transformar a sociedade em drogados zumbis, o q, aliás, facilita bastante o controle sobre os indivíduos. Mentes alteradas, fora de esquadro, s/ consciência e s/ capacidade p/ discernir e escolher. A droga é bastante útil, não p/ "expandir" o intelecto, mas justamente p/ escraviza-lo. E o combate ao tráfico não é completamente eficaz pq MUITA gente lucra c/ isso. A ditadura venezuelana, por ex, só se mantém pelo narcotráfico, e no Brasil não é muito diferente, vide a força das organizações criminosas; não teriam crescido tanto e tão rapidamente se não tivessem a ajuda de quem deveria combate-las. Fala-se cochichado, mas sabe-se q há muitos "interesses" (e interessados) por trás desse lucrativo negócio.
Otavinho q fume seu bagulho no inferno, o digno representante do "vanguardismo" decadente e destruidor da Folha.