#FogoNaMenteDosHomens (4)
Uma leitura inusitada da saga "Duna", de Frank Herbert a Denis Villeneuve
[Leia a terceira parte do ensaio]
Vastidões claustrofóbicas
“O terror é a fonte comum de tudo que é Sublime.”
Edmund Burke
Dos grandes temas que encontramos na obra cinematográfica do diretor franco-canadense Denis Villeneuve, talvez o mais importante para nós seja aquele da experiência esmagadora do Homem diante do Sublime, experiência que nasce do encontro com o vazio, com a escuridão, e também ao nos depararmos com a vastidão, a magnitude, o poder. Através dos séculos a experiência do Sublime era tão avassaladora e perturbadora que apenas alguns poucos escolhidos da comunidade tinham acesso a ela; eram xamãs, profetas, sacerdotes que, após adentrar o “espaço sagrado”, retornavam transfigurados, transmitiam e interpretavam sua experiência para a comunidade.
Mas já não vivemos mais neste mundo de comunidades coesas, onde experiências e um imaginário comum davam significado aos membros de um corpo social e religioso, moldando sua moral, sua ética, seus hábitos. Vivemos em um mundo fragmentado, cada vez mais radicalizado em identitarismos que, como vírus mortais, destroem as comunidades de dentro para fora; um mundo de credos secularistas que pretensiosamente tentam substituir a experiência religiosa; um mundo cada vez mais assombrado e violento por religiões políticas e ideologias apocalípticas; um mundo onde as pessoas comuns buscam resposta às suas angústias e, nesta busca, se perdem ou enlouquecem, tornam-se humanos ou monstros; um mundo à espera do seu fim, um mundo à espera do seu messias.
Filmes como Os Suspeitos, O Homem Duplicado, A Chegada, Blade Runner 2049, para citar os mais conhecidos trabalhos do diretor, exploram com maestria tais experiências fragmentárias, tais forças incompreensíveis que pairam sobre os personagens de Villeneuve, e na sua fascinante e majestosa interpretação de Duna, este drama humano ganha dimensões épicas - e talvez a que mergulha mais fundo no drama apocalíptico que paira sobre nossas cabeças.