Ontem o Manhattan Connection exibiu o penúltimo programa em homenagem a Paulo Francis. A série não foi um sucesso de público. Ninguém mais se interessa por ele. Ele não perde nada com isso, quem perde são os outros - aqueles que não vão conhecê-lo.
Os programas valeram a pena pelos depoimentos dos técnicos que trabalharam com ele, pelas fotografias e charges que foram desengavetadas e pelas histórias do Lucas Mendes, como as que ele contou ontem, sobre o cabelo verde de Paulo Francis ou sobre os peidos sonoros que ele soltava toda vez que Paulo Henrique Amorim entrava no escritório.
Eu aproveitei para contar como foi nosso primeiro encontro, em 1989. Peguei um avião de Veneza a Nova York só para ser apresentado a ele. Costumo apagar tudo da memória, mas minha mulher, que ainda não era minha mulher, ainda se lembra do relato que fiz pelo telefone.
Na época, ela não sabia quem era Paulo Francis. O único brasileiro que ela conhecia era o Ubiratan, que jogava basquete em Veneza. Mas ela disse que eu estava entusiasmado com o encontro, apesar da indigestão provocada pela quantidade de alho usada no pior restaurante italiano do planeta, Bravo Gianni, o preferido de Paulo Francis.
Penso nele todos os dias há mais de dois meses, por causa de nossos programas. Apesar da memória fraca, meus mortos não vão embora. Paulo Francis se mandou, mas continua aqui.
Quando eu era criança eu adorava imitar o Paulo Francis e o jeito cadenciado de falar: eu falava TUDO como se fosse o Paulo Francis narrando meu dia a dia.
Achei deselegante a nova integrante afirmando que ele era racista tirando do contexto "época em que ele viveu", o que era comum e o que não era. Confesso que parei de assistir ao programa naquele dia, pq pensei: "não ouvirei essas Manhatazanas novatas falarem mal do Paulo Francis"!
Comecei a ler Paulo Francis por sua influência. Hoje, influencia é palavra quase torpe, muito por conta das redes sociais. Deixei esse comentário no primeiro Não é assinante que tive acesso, logo após me tornar assinante.
Fico muito feliz de ter chegado até aqui, de verdade. Felicidade genuína como a de um cachorro quando seu dono (nos dias de hoje "tutor") desce para pegar alguma encomenda e, ao voltar, parece que foram semanas tamanha a festa. Há talvez uma coincidência: estive buscando artigos que falavam de Paulo Francis, cheguei até um tal Fernando Jorge (não merece qualquer comentário) que, por alguma questão que não me lembro, me fez chegar até aqui. No meio disso, reli uma carta que uma tal senhora lhe escreveu, após algumas críticas feitas à empresa que leva seu nome (que, para mim, sempre foi uma espécie de castelo de areia). Trabalhei, e ainda trabalho, em mercado de capitais. Tais críticas feitas, ao redor de 2014, eram absolutamente corretas, na minha humilde opinião. Nada como 10 anos - e alguns (vários bilhões a menos para que ferraram o pequeno acionista) - para que a verdade apareça. Mas como diria Ivan Lessa, "de 15 em 15 anos, o Brasil esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos." Com redes sociais, talvez, este intervalo tenha caído para 15 minutos (ou segundos). Brasil é um país de mitos de ocasião, heróis como Macunaíma. Estive, por quase um ano, procurando o que ler. Simplesmente não existe, na minha concepção. Nao que eu seja um gênio reinventado, mas pensar faz bem. Colunas vazias, opinões macarrônicas, vieses para todos os lados, muitos, inclusive, com a profundidade de um pires. História longa, curta: agradeço pelo espaço, agradeço pela iniciativa. Oxalá tenha sucesso. Sim, torcida com a mesma (ou quase) genuinidade dos cães.