[Leia a primeira parte do ensaio]
Por Mark Lilla
[tradução de João Pinheiro da Silva]
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O livro que primeiro cristalizou o clima pós-liberal foi Por que o liberalismo fracassou?, de Patrick Deneen, que criou um grande alvoroço quando foi publicado em 2018 e recebeu o endosso de Barack Obama. A descrição do pensamento pós-liberal que apresentei anteriormente foi extraída em grande parte desse livro. Deneen se concentrou especialmente no modo como a idealização da autonomia individual tem funcionado como um ácido que corrói os fundamentos culturais mais profundos que herdamos da era cristã e que, segundo ele, sustentavam uma série de costumes e crenças compartilhados que cultivavam famílias estáveis, senso de obrigação e virtudes como moderação, modéstia e caridade. Ross Douthat resumiu bem seu argumento:
Enquanto antes garantia igualdade, o liberalismo de hoje oferece apenas plutocracia; em vez de liberdade, concupiscência regulada por um estado de vigilância; em vez de verdadeira liberdade intelectual e religiosa, conformidade e mediocridade crescentes. Reduziu culturas exuberantes a produtos de consumo, destroçou relações sociais e familiares e nos tornou habitantes isolados e mutuamente desconfiados de uma “anticultura” na qual os bens humanos mais genuínos se evaporam.
O quão persuasiva você achará essa descrição dependerá do quanto compartilha a visão sombria de Deneen sobre a forma como vivemos atualmente. A maior parte da direita pós-liberal concorda com Dennen. Mas eles também levam em conta preocupações que normalmente animam a esquerda, como a influência política do capital, os privilégios de uma elite meritocrática e congênita, a devastação do meio ambiente e os efeitos desumanizadores da inovação tecnológica ilimitada - tudo isso interpretado por Deneen como fruto do individualismo liberal. Os pós-liberais consideram que estão desenvolvendo uma visão mais abrangente do bem comum que integra cultura, moralidade, política e economia, o que tornaria o conservadorismo mais internamente consistente, libertando-o da idolatria Reaganista dos direitos de propriedade individuais e do mercado.