#interludio: Deixados Para Trás (2)
Revendo “Um dia de fúria” (1993), de Joel Schumacher, um clássico esquecido que antecipa a Era de Trump.
[Leia aqui a primeira parte do ensaio]
Joel Schumacher é o clássico diretor norte-americano: trabalhou em uma variedade de gêneros, para quase todos os estúdios hollywoodianos. Um artesão competente, seus filmes são balanceados, bem atuados, e com um olhar cuidadoso para a direção de fotografia, arte e cenários. Trabalhou em filmes dramáticos e românticos, como O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (St. Elmo’s Fire, 1985), onde mostrou seu talento para casting, revelando uma nova geração de intérpretes, como Rob Lowe, Judd Nelson, Demi Moore, Andrew McCarthy e Emilio Estevez, e que continuaria em filmes como Os garotos perdidos (The Lost Boys, 1987), onde revelou Corey Feldman, Jason Patric e Kiefer Sutherland - dois filmes “geracionais”, tratando de temas coming-of-age (ou dramas de formação).
Mas Schumacher também revelou competência em gêneros diversos como o romântico Tudo por amor (Dying Young, 1991); o legal thriller, com duas adaptações de John Grisham, O Cliente (The Client, 1994) e Tempo de matar (A Time to Kill, 1996); o filme de guerra, com Tigerland (idem, 2000); o musical, com O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera, 2004) e mesmo o suspense policial neo-noir, com O Número 23 (The Number 23, 2007) e 8mm (idem, 1999) - além, claro, de suas infames adaptações de Batman: Batman Eternamente (Batman Forever, 1995) e Batman & Robin (idem, 1997).
Em uma carreira que cobre aproximadamente quatro décadas e uma variedade gigante de gêneros, o estilo de Schumacher é invisível; isto é, sua marca é a competência técnica e formal. Ele cumpre o molde do clássico diretor de estúdio americano, ficando na mesma categoria de diretores como Peter Hyams, Andrew Davies, Phillip Noyce, Martin Brest e tantos outros. São diretores que não entrariam no “panteão” norte-americano, mas cujos filmes e carreiras são fundamentais não só para manterem a máquina girando como também funcionando com eficiência - e com competência. São filmes tecnicamente muito bem feitos, e que dependem de recursos razoáveis. Sua especialidade são filmes “mid-budget” - nem de baixo-orçamento, nem blockbusters. Sempre trabalham com estrelas, e ocasionalmente seus filmes até ganham Oscars, mas não tentam ter esse objetivo. Dificilmente são os grandes lançamentos dos estúdios e distribuidoras, mas não são filmes a serem desprezados também.