#interludio: Os Novos Intérpretes do Brasil (2)

Os combates dentro do liberalismo

[Leia a primeira parte do ensaio]

Por André Silva de Oliveira

A VISÃO DE MELO PARA O BRASIL DEMOCRÁTICO     

Diferentemente da análise essencialmente classista de Jessé Souza da trajetória político-institucional brasileira, Marcus Melo interpreta a dependência nacional com base no institucionalismo cujas teorias fundamentam majoritariamente a Ciência Política do tempo presente. Há, portanto, mais do que a mera preferência ou repulsa pelo peso da contribuição liberal na trajetória dependente nacional, praticamente um abismo teórico-metodológico entre os dois intérpretes que os levam a resultados diferentes ao escrutinar o mesmo tema. Isto não quer dizer que não seja possível aferir qual dos modelos teóricos se apresente mais condizente com a realidade efetiva como se verá na seção seguinte.

Inicialmente, deve ser ponderado que Melo não estigmatiza a democracia representativa do tipo liberal como um modelo que promove naturalmente a exclusão social através de mecanismos nem sempre visíveis como sustenta a análise de Souza. Ancorado nas teorias institucionalistas do tempo presente, Melo considera certamente a democracia liberal como o resultado de uma longa trajetória de lutas políticas em favor do Estado de Direito no Ocidente.

O conjunto da obra de Melo parece apontar para a crença de que, embora imperfeitas, as instituições da democracia liberal são capazes de promover gradual e sequencialmente mais inclusão social no campo econômico e, na esfera política, mais controle social sobre os poderes constituídos. Os esforços acadêmicos de Melo têm, portanto, se concentrado na análise comparativa dos diversos modelos ou desenhos institucionais que promovem, ou não, inclusão social e confiabilidade no sistema político. Nesse modelo interpretativo, claro está que a luta de classes como mecanismo de análise cede lugar para avaliações que levem em conta a eficiência dos desenhos institucionais adotados, isto é, importa aferir como as estruturas de incentivos e sanções têm, de fato, funcionado no interior de cada sistema político escrutinado.