E lá se vão 20 anos de trabalho
Jimmy Kimmel, apresentador do Jimmy Kimmel Live, o comediante que está há mais tempo no ar nesse tipo de atração, está fora do ar por tempo indeterminado.
Não porque contou uma piada pesada, mas porque não contou piada nenhuma. Isso foi o suficiente para incendiar metade do país.
No monólogo de abertura, ele comentou o assassinato de Charlie Kirk que foi um dos principais influenciadores trumpistas. Disse o humorista:
“Chegamos a novos níveis baixos neste fim de semana, com a turma do MAGA tentando desesperadamente caracterizar esse garoto que assassinou Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um deles e fazendo de tudo para ganhar pontos políticos com isso.”
Ou seja, uma critica ao MAGA (Make America Great Again) por tentar se descolar do crime e ainda usar a tragédia para atacar os democratas. Foi um comentário direto, sem punchline ou alívio cômico.
E foi aí que o problema começou: o público ligou a TV esperando riso e recebeu editorial. Quem concorda viu coragem. Quem discorda viu oportunismo. A ABC viu dor de cabeça e os patrocinadores indo embora.
O timing foi o pior possível: Kirk tinha acabado de ser assassinado. Na cartilha social, espera-se que nas primeiras horas você apenas lamente, de preferência sem analisar.
E o erro foi esse: ainda não está confirmado se o suspeito era membro ativo do MAGA. Há indícios de que tinha visões políticas à esquerda, mas seus pais são republicanos.
E ele não mirou no assassino, mirou na “gangue MAGA”. Para a direita, soou como se ele se importasse mais em atacar trumpistas do que em lamentar a morte de Kirk.
Aí veio a reação: a Nexstar Media, dona de mais de 200 afiliadas, anunciou que não transmitiria o programa.
O presidente da FCC (Comissão Federal de Comunicações) chamou o comentário de “a conduta mais doentia possível” e deixou no ar uma ameaça: a FCC pode até revisar a licença de uma emissora se achar que ela não está atuando no “interesse público”. Para uma rede como a ABC, isso soa menos como crítica e mais como ultimato.
Veja bem: estamos falando de Jimmy Kimmel, não de um estagiário que falou besteira ao vivo. O cara está há mais de 20 anos no ar, é referência cultural e até mestre de cerimônias do Oscar.
Banir um nome desse peso por um comentário sério parece desproporcional, quase um recado para todo mundo que pensa em falar algo fora da curva.
E aí fica a dúvida: será que foi mesmo só pela “insensibilidade ansiosa” do comentário ou foi a chance perfeita de silenciar um apresentador democrata que critica Trump há anos, mas sem parecer censura política?
A rede preferiu suspender o programa indefinidamente. Nos EUA, a liberdade de expressão é garantida pela Primeira Emenda... até que você diga algo que desagrade quem está no poder. (Te soa familiar?)
Duas ironias:
Jimmy Kimmel foi punido por politizar uma tragédia… através de uma decisão puramente política. Foi acusado de usar a morte de Kirk para atacar a direita. Aí a direita usou a fala dele para atacar a esquerda.
Os defensores absolutos da liberdade de expressão pressionaram para tirar do ar um comediante por falar algo sério.
É a velha história: liberdade de expressão para o MEU discurso. Para o seu, tem Comissão Federal, Empresa de Afiliadas, boicote de patrocinador e suspensão ao vivo.
MAGA grita todo dia que está sendo censurado pelo “big tech”, mas quando alguém do outro lado fala o que eles não querem ouvir, exigem pedido de desculpas ou demissão.
É como suspender o Faustão porque em vez de apresentar as Vídeo Cassetadas, resolveu dar uma opinião sobre a prisão do Bolsonaro.
Talvez o erro de Kimmel tenha sido subestimar o público: quando o humorista fala sério, ninguém sabe se ri, se chora ou se chama a FCC. E num mundo polarizado, silêncio não é opção porque cada frase é lida como apoio ou ataque.
Ele foi suspenso não por uma piada ruim, mas por ter dito algo sério num programa de humor.
Isso mostra o paradoxo de ser humorista hoje: se você faz piada, te acusam de insensível; se você fala sério, te acusam de militante. É o famoso “ri, mas com moderação”.
E se você acha isso estranho, parabéns! Você entendeu exatamente o estado do debate público hoje: até o silêncio pode ser interpretado como provocação.
O que estamos vendo é o mesmo dilema global: o humorista não pode mais ser o bufão que cutuca o rei. Ele tem que pedir bênção antes da piada.
Talvez a ABC coloque no lugar do Kimmel um vídeo de lareira, porque pelo menos ninguém se ofende com fogo. A não ser que o fogo sejam ideias.
Penso que antes da censura vieram os patrocinadores do programa. Não me parece muito sensato um formador de opinião definir apenas como "kid" um assassino que será condenado a pena de morte.
Grande exposição request grande responsabilidade. Aqui não vejo cerceamento de opinião, mas de alguém que proferiu uma opinião fora de contexto. Fez ao meu ver, militancia. Opinião. Claro que ele pode ter a dele. Mas tem de ter responsabilidade. Ele desviou-se da finalidade do programa para militar. Esta errado. Assim como ao meu ver qualquer artista que se pronúncia sobre temas que não são de sua alçada, só por ser artista tb está errado.