Amo a imprensa. Ela me deu tudo. Fui um rapazinho espetacularmente sortudo. O maior colunista do Brasil, Paulo Francis, que eu lia desde os doze anos, sem entender nada, paparicou meus primeiros romances, tanto no jornal quanto na TV. Ganhei as primeiras páginas de todos os suplementos culturais, com resenhas e entrevistas. Quando precisei de um emprego, a imprensa me acolheu e me pagou um despropósito. Fiz resenhas por alguns anos e, depois, fui premiado com uma coluna na principal revista do país, onde eu gozava de uma liberdade inimaginável para os outros jornalistas. Ao ser cobrado pelas pessoas que eu bombardeava, o dono da revista, Roberto Civita, respondia que eu era como um canhão solto no convés do navio - disparava para todos os lados, a esmo. Os leitores também me premiaram. Os livros que publiquei com o material dessas colunas, de fato, venderam mais de cem mil exemplares cada um. Na TV, herdei a vaga de Paulo Francis no Manhattan Connection e trabalhei na Globo por dezessete anos, em total autonomia e com um salário exorbitante, no momento em que mais precisava dele, a fim de bancar o tratamento da paralisia cerebral de meu filho mais velho. A partir de 2015, fui sócio de um site de política que logo se tornou o maior do Brasil e teve um papel primordial nos acontecimentos mais marcantes do país: o impeachment, a Lava Jato, a prisão de Lula.
Essa imprensa na qual eu cresci não existe mais. Mas continuo acreditando na mesma coisa: a melhor maneira de defender a liberdade de opinião é o contraditório. Por esse motivo, passei trinta anos sabotando o corporativismo e a patota: na imprensa, na literatura, na vida social. Nosso site é uma titica, mas o princípio é igual: a imprensa tem de se regular sozinha, jogando um jornal contra o outro, sem censura e sem depender de regras impostas por um juizinho brasiliense ou por um deputado analfabeto. Isso vale também para as redes sociais. Os inimigos da liberdade de opinião são aqueles que manipulam os fatos por sectarismo, por partidarismo, por burrice ou por jabá - e precisam ser expostos. A imprensa só se salva quando patrulha a própria imprensa. Ou quando não é imprensa.
Desconfio que é essa consistência que todos procuram aqui. O Danilo ontem falou da sensação ruim que é ler um jornal e ver uma mentira atrás da outra...
Acho que NEIMers são pessoas que não gostam de sentir que estão sendo manipuladas e tratadas como idiotas...🙃🙂
O Mainardi é o meu Paulo Francis.