#LongaVidaAoNovoRei (3)
Sobre "Camelot 3000", de Mike W. Barr, Brian Bolland e Tatjana Wood
[Leia a segunda parte do ensaio]
Camelot 3.0: De Geoffrey of Monmouth e Thomas Malory a Mike W. Barr e Brian Bolland
O Rei Artur, Merlin, e os Cavaleiros da Távola Redonda, como os personagens de uma saga que está integrada na cultura popular que são, já apareceram direta ou indiretamente em diversos gibis. Etrigan, o demônio criado por Jack Kirby, é irmão de Merlin. Merlin também participa da origem do Capitão Britânia, escrita por Chris Claremont. Claremont voltaria ao mito arturiano em La Morte de Jessica [Spider-Woman #41]. A história não apenas faz uma referência ao livro de Thomas Malory em seu título, como também tem Morgana Le Fay como vilã.
Ao contrário desses gibis, no entanto, Camelot 3000 não utiliza os personagens da tradição arturiana de forma estática. Barr e Bolland foram além. Eles não queriam produzir apenas uma continuação cronológica das histórias originais, mas usar os seus elementos para contar, em uma perspectiva contemporânea, uma história surpreendentemente sofisticada: uma história sobre o vazio materialista, o poder dos símbolos e o sacrifício pessoal como forma de transcendência.
Camelot 3000 pode transcorrer no terceiro milênio, mas é um terceiro milênio surpreendentemente parecido com o século XX. Ao mesmo tempo, esses elementos contemporâneos preservam as características essenciais daqueles que a já estavam presentes nas histórias originais do rei Artur.
Isso é mais perceptível no contexto em que transcorre a história. A invasão alienígena, por exemplo, é uma versão em quatro cores da segunda guerra mundial: o gibi parte de uma versão futurista da Batalha da Inglaterra; Prentice sonha em se juntar à resistência francesa; e o triângulo Guinevere-Lancelot-Artur reproduz a dinâmica Ilsa-Laszlo-Rick de Casablanca [com a diferença nada desprezível que dessa vez o Laszlo se ferra].
Ao mesmo tempo, a horda de alienígenas oriunda de um planeta selvagem que invade Terra lembra uma das forças invasoras descritas por Geoffrey of Monmouth em Historia Regum Britanniae. Esse livro, no entanto, opera na escala do século XII: os invasores vêm da Irlanda. Geoffrey of Monmouth não é um zé na história de Artur. Entre 1130 e 1150, com Historia Regum Britanniae, Prophetiae Merlini e Vita Merlini, ele deu a partida no cânone arturiano.
Por outro lado, a humanidade, em Camelot 3000, é comandada por uma ONU ditatorial. Isso, por si só, já é uma ideia bastante contemporânea. Mas ela não está só. Os líderes dos países que formam o “Conselho de Segurança” da ONU do terceiro milênio são paródias de líderes do século XX do mundo real. O Presidente Marks parece uma mistura de Lyndon Johnson com Ronald Reagan. A Secretária-Geral Feng lembra Jiang Qing, viúva de Mao Tsé-Tung [e que carregou a culpa pelo fracasso da Revolução Cultural depois de sua morte].