Sensacional, os oldies como eu sabem bem o prazer que era ler Paulo Francis e Ivan Lessa. O Diogo ter desfrutado da companhia, amizade e da conversa desses dois gigantes é de um valor incalculável. Diogo timidamente se revelando, engrandecendo a iniciativa do NEIM e nos brindando com muita coisa boa. Dez! Conversa fluída e autentica.
Demais a entrevista! Gostei do enfoque ao afeto. Primordial. Mesmo que o intelecto avance, não pode deixar de lado a afetividade. Diogo foi se fazendo na literatura e no jornalismo a partir das relações afetivas e segue em frente. Que o Nico se torne um grande cineasta e que a gente sempre possa contar com as reflexões e tiradas certeiras do pai dele!
Que delícia de entrevista. Que privilégio. Inspiradora.
Ouvir o Diogo contar a sorte que deve de conhecer Lessa, Millôr, Francis, sujeitos absurdamente cultos, inteligentes e contestadores e ficou eu pensando no meu filho hoje ainda com 13 anos, escritor, cru de tudo, sonha em estudar nos Estados Unidos, que já até esteve no Danilo Gentili e em 2018 na bancada do Manhattan Connection (foi em julho, férias do Diogo que infelizmente não estava no dia), além dos pais, o quanto é difícil, beirando o impossível, ter um tutor, um mentor, alguém que ensine de verdade. E o Diogo teve logo vários. Que privilégio! Mas acho que passa primeiro pela ambição de ter, de buscar esse alguém e isso que tento colocar na cabeça do meu filho, que ele se jogue no mundo, busque as pessoas certas, aprenda o máximo que puder lendo, observando, mimetizando para aí sim iniciar seu próprio caminho seja lá qual for e lá na frente poder retribuir essa grandeza.
Que papo ótimo! Sensacional. Diogo, sinto decepcioná-lo, desejo vida longa ao NEIM. O assinante/leitor não está cheio da política, da Lava-jato etc. está apenas cansado desse país do futuro que nunca chega. Assim, precisamos da política inevitável, mas também de textos delicados, da dura realidade, de ensaios que nos tirem da zona de conforto etc.
Paulo Francis, 1980, nas memórias "O Afeto que se Encerra": "Nenhum assanhamento me move a aparecer em TV todo dia. Ao contrário, é uma autoviolação de profundas resistências internas. Me sinto o Chacrinha Jr." Um (UM) ano depois, se tornaria ícone da TV, aparecendo todo dia no Jornal da Globo.
Grande Francis, nem a autoridade de si mesmo respeitava.
Os memes, efeitos especiais, imagens, fotos etc salpicados ao longo do bate papo ilustrando o que é conversado. Dá frescor, informa, diverte e ajuda a contar a estória (com "e" mesmo). Loola esbaforido na rua fugindo do camburão. Tudo! Mas podia ter sido mais. Tantos livros foram citados. Cadê pop ups rápidos na tela com suas capas? Poderia. Edição esperta tipo MTV dá ritmo ao negócio e contribui pra manter a chama acesa. Não estamos no Manhattan Connection, mas no YouTube. Invistam.
Diogo não gosta de ficar falando à toa de Paulo Francis por achar que as pessoas não se interessariam, porque o assunto seria velho, batido e ninguém da nova geração nem saberia quem ele foi. O estagiário até concorda, mas jovem "coleguinha" da classe fez com que mudasse de ideia. Santo “coleguinha” a provar que se se fugir de salpicar Francis aqui e ali, a coisa desce a ladeira ainda mais nessa terra esquecida por Deus. Tem que esfregar Francis na cara de quem está chegando agora pra ver se a garotada entra no mundo adulto uma hora qualquer (mesmo os velhos) .
Diogo aponta como prova da existência de um suposto desinteresse por Francis a queda da audiência no YouTube - plataforma consumida pelos recém chegados - do programa Manhattan Connection que privilegiou Francis mesmo exibindo entrevistas inéditas com colegas dele etc. Não sabe dizer se na TV teria se dado o mesmo.
Entre outras coisas, suspeito que tal possa ter se dado também pelo fato de ter sido tão alardeado que em 4 de fevereiro seria exibido um programa inteiro sobre Francis, mas o que foi mostrado nada teve de inédito. Apenas reprise de outro tratando dele, acho que feito pelo GNT logo após sua morte, e disponível há muito no YouTube.
Segundo Diogo, “Francis representa um mundo que deixou de existir”. Verdade.
E de acordo com o outro, "uma das funções do site é exatamente resgatar Francis do limbo em que a própria imprensa o teria colocado". Esperamos que sim – favor notar o “plural majestático” tão apontado nessa “zona de interesse”.
Como disse Gustavo Krause no filme sobre Francis, que o adorava e em quem Francis descia o pau: “Ele faz falta pelo fato de se contrapor, por não pensar pela vulgata marxista e dizer as coisas com todas as letras”. Já destaquei tal num comentário aqui.
Ainda o estagiário: "Em seu trabalho como jornalista e escritor, o próprio Francis era muito preocupado em não deixar cair no esquecimento e recuperar um mundo - até idealizado - que ele via que estava indo embora".
Diogo : “A importância de Francis já se dava, desde a época da ditadura em que tudo estava censurado e proibido, pela prática de um TEMPERAMENTO (disse tudo) que contestava o que era oficial, pelo uso de uma linguagem até desrespeitosa com a tradição acadêmica” (não possível por qualquer um, só mesmo pelos Francis da vida)
Francis vale por aquilo que disparou na bancada do Manhattan Connection brincando com a correção política exibida em dado momento por Caio Blinder e Nelson Motta, impossível em pessoas adultas e ainda mais diante da vida como ela é desde que o mundo é mundo: “Ah, que vida simples que vocês levam!”
Ao invés desse site ter como mote a sentença de Tom Stoppard, deveria ter o contraponto ranzinza de Francis.
Como Diogo sublinhou, Francis contribuiu menos para sua formação intelectual e mais para sua formação como pessoa mesmo.
Quando ele silencia Diogo ao considerar tipos nefastos como Maluf, Delfim Netto e Collor (“alto, bonito e branco, branco ocidental”), todo mundo que o conhece, mais ainda Diogo, sabe exatamente no que ele está mirando no meio dessa selva desgraçada que é o Brasil. Por isso a importância de permitir que Francis espante (e exaspere) outros também, além do próprio Diogo. Como Francis sempre quis, isso empurra o Bananal para frente.
E na direção do que importa, como Diogo mesmo comentou: “Em Veneza, ele não ficava ocupado em falar dos rumos do Brasil e do mundo. Queria saber do mais importante: em qual restaurante iríamos jantar à noite”.
Que é o que interessa mesmo no final das contas. Porque ele já sabia que grande parte dos clientes da Livraria Cultura estava longe de ser sofisticada, a maioria de seus vendedores só queria conseguir pagar as contas no final do mês mesmo, as equipes que comandavam as lojas sempre pouco se importaram com o que acontecia fora delas na “vida pessoal dos vendedores” e para os Herz estes eram mesmo uns “merdas imprestáveis” como até os próprios clientes, como assinante do NEIM chegou a testemunhar os “chiques and lyndos” comentando na loja em alto e bom som diante de quem ia lá colocar dinheiro no bolso deles.
Como bem sublinhou o estagiário, “a conversa que Francis tinha com o leitor é que ele fosse adulto por si mesmo” e se livrasse de ser, “como a classe intelectual, um Maria-vai-com-as-outras”.
E como Diogo já contou, começou a ler Francis aos 12 anos e não entendia absolutamente nada.
Excelente começo.
Porque fundamental na vida é não entender nada mesmo, partir exatamente desse ponto para, ao final, chegar no mesmo ponto de partida.
O caminho? Francis ensinava: “O brasileiro se aproxima da opinião como um católico da Sagrada Escritura: o que está escrito é verdade. Eu tenho um ‘approach’ mais liberal, mais protestante. Toda opinião válida”.
O que fazia o ex-editor da Folha de São Paulo dizer sobre Francis: “A capacidade que ele tinha de usar uma linguagem pessoal, tocar em temas elevados e logo em seguida fazer uma fofoca, era fascinante”.
Boris Casoy concorda: “Não se abria o jornal para aprender história, ética ou moral com ele. Mas para ler Paulo Francis”.
Pois é. Como deixá-lo desparecer? Já prometi publicar aqui colunas antigas dele que recebo toda semana em grupo de WhatsApp. Já postei algumas e outras que já prometi, acabei esquecendo de publicar. Vou retomar seriamente. Contra o entendimento de Diogo.
Publicar colunas antigas dele seria ótimo. Discutir o contexto da época conectando com os dias de hoje. Talvez esteja aí uma boa alternativa de manter viva a inteligência e a capacidade intelectual do Paulo Francis.
Nunca pensei tanto que publicar velhas colunas de Francis poderia dar oportunidade de se "discutir o contexto da época conectando com os dias de hoje" ainda que tal possa ser feito sem problema algum e seria ótimo também.
O que gosto de ver nas velhas colunas de Francis que recebo semanalmente de amigos é o que foi até sublinhado pelo estagiário ao perguntar a Diogo sobre o que conversaria com Francis quando o recebia em Veneza. Ele disse: "Tudo leva a crer que era uma conversa muito mais sobre postura de vida do que um olhar frio e
intelectual sobre a vida".
É isso que gosto de perceber, como todo mundo, nas colunas dele: seu olhar sobre a vida de que gosto muito. Boris Casoy comenta isso no filme sobre Francis. Todo mundo lia a coluna dele por causa do olhar dele sobre as coisas, não pra aprender nada - ainda que as colunas dele permitissem isso também
Por mim, acho que se as pessoas adquirissem o olhar dele sobre a vida (que aprecio muito) e nada aprendessem sobre história, ética ou moral, já lucrariam muito.
Lembro de muita coisa lida de Francis, sou capaz de repetir não só palavras e expressões inteiras que ele usou ao tratar de determinados assuntos, mas me recordo principalmente, como o outro sublinhou, sobre a "postura de vida" dele, seu olhar sobre as coisas. Talvez por isso eu lembre tanto de muita coisa que ele escreveu, memória de elefante mesmo. E talvez por aquilo que Nietzsche costumava dizer: quando a gente lê alguém e aprecia o escrito, a gente já sabia daquilo. Meu olhar sobre as coisas sempre foi idêntico ao dele. Quando tropecei nele na vida, "match" total.
E o charme, a verve, a diversão e a informação que vinham junto com sua opinião, como disse o outro no filme, "falar de algo elevado e logo após fazer uma fofoca", tornavam Francis irresistível. Ele sempre falou para adultos e daquele modo que só ele tinha. Incontornável.
Já publiquei duas colunas dele aleatórias que havia recebido no grupo de WhatsApp e vou colocar os links abaixo. Lembrei-me de outra que já havia recebido há muito por causa de um post publicado nessa "zona de interesse". Nele foi usada a expressão "rede de intrigas", nome de filme que adoro (e que é a cara de Paulo Francis, foi feito para ele (se você nunca viu, tem que assistir correndo; procure na internet)). O filme trata não do universo da televisão, ainda que aborde seus bastidores, mas da "postura de vida" das pessoas em qualquer lugar (inclusive na Livraria Cultura). É matador. Feito pra Francis mesmo. Assim, o texto aqui usou a expressão "rede de intrigas", lembrei do filme e de uma coluna de Francis em que ele falava, nos anos 70, sobre a guerra de foice na televisão e no telejornalismo.
(o mote de Francis sempre, pouco importa o assunto, é "a vida é uma guerra de foice selvagem"; e é mesmo, espero que você já saiba disso e não tenha problema com tal; o papo com ele é daí pra cima; criança não entra)
Mas voltando, por causa do texto publicado no NEIM, lembrei do filme e, por sua vez, da coluna de Francis, que nada tem a ver com o teor do texto aqui postado. Pouco importa. Importa a oportunidade de se ler Francis (a coluna dele sobre a televisão naquela época é irresistível ; está tudo lá). Comentei que iria publica-la e acabei esquecendo. Vou fazer. Mas existem outras duas aleatórias já postadas por mim. Confira se ainda não teve oportunidade usando o endereço abaixo: 👇
Acompanhei Paulo Francis desde o Pasquim. É sempre um prazer ouvir falar sobre ele. Nunca tive dúvidas sobre a sua importância na cultura brasileira. E sempre achei o FHC um babaca,podia ter acabado com aquela perseguição do povo da Petrobrás. Desejo muito mal à ele.
Saudades de ser alimentado intelectualmente pelo Diogo. Seu retorno já não era sem tempo Diogo! Obrigado por tudo o que escreve e fala. Brasil precisa de você. Como sugestão para os próximos programas: indicações de livros e resenhas…Abraços
É sempre bom ouvir alguém que não gosta muito de falar... ótima conversa!
Sensacional, os oldies como eu sabem bem o prazer que era ler Paulo Francis e Ivan Lessa. O Diogo ter desfrutado da companhia, amizade e da conversa desses dois gigantes é de um valor incalculável. Diogo timidamente se revelando, engrandecendo a iniciativa do NEIM e nos brindando com muita coisa boa. Dez! Conversa fluída e autentica.
Eu adorei a homenagem do Manhatan Connection ao Paulo Francis.
A boa cultura está desaparecendo graças a imprensa atual , que ironicamente terá o mesmo fim.
Este site é um alento.
Um sopro de esperança!
Assino em baixo!
CONCORDO.
Excelente! É sempre ótimo ver e ouvir o Diogo!
Parabéns Martim, a dobradinha foi ótima!
Demais a entrevista! Gostei do enfoque ao afeto. Primordial. Mesmo que o intelecto avance, não pode deixar de lado a afetividade. Diogo foi se fazendo na literatura e no jornalismo a partir das relações afetivas e segue em frente. Que o Nico se torne um grande cineasta e que a gente sempre possa contar com as reflexões e tiradas certeiras do pai dele!
Que delícia de entrevista. Que privilégio. Inspiradora.
Ouvir o Diogo contar a sorte que deve de conhecer Lessa, Millôr, Francis, sujeitos absurdamente cultos, inteligentes e contestadores e ficou eu pensando no meu filho hoje ainda com 13 anos, escritor, cru de tudo, sonha em estudar nos Estados Unidos, que já até esteve no Danilo Gentili e em 2018 na bancada do Manhattan Connection (foi em julho, férias do Diogo que infelizmente não estava no dia), além dos pais, o quanto é difícil, beirando o impossível, ter um tutor, um mentor, alguém que ensine de verdade. E o Diogo teve logo vários. Que privilégio! Mas acho que passa primeiro pela ambição de ter, de buscar esse alguém e isso que tento colocar na cabeça do meu filho, que ele se jogue no mundo, busque as pessoas certas, aprenda o máximo que puder lendo, observando, mimetizando para aí sim iniciar seu próprio caminho seja lá qual for e lá na frente poder retribuir essa grandeza.
Sorte pra todos!
Que papo ótimo! Sensacional. Diogo, sinto decepcioná-lo, desejo vida longa ao NEIM. O assinante/leitor não está cheio da política, da Lava-jato etc. está apenas cansado desse país do futuro que nunca chega. Assim, precisamos da política inevitável, mas também de textos delicados, da dura realidade, de ensaios que nos tirem da zona de conforto etc.
Rapazes, vocês cumprem muito bem essa mescla.
Não desistam de divulgar Paulo Francis. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
Paulo Francis, 1980, nas memórias "O Afeto que se Encerra": "Nenhum assanhamento me move a aparecer em TV todo dia. Ao contrário, é uma autoviolação de profundas resistências internas. Me sinto o Chacrinha Jr." Um (UM) ano depois, se tornaria ícone da TV, aparecendo todo dia no Jornal da Globo.
Grande Francis, nem a autoridade de si mesmo respeitava.
Sem palavras...sem palavras! Só mesmo poder ouvir estas palavras. Que maravilha.
Vida longa e próspera ao não é imprensa e livros novos a Diogo.
Infinitamente mais interessante do que falar de Lula, Bolsonaro, GM e similares...mto bom!!!
NÃO É CULTURA?
É MUITA CULTURA, MUITA!!
Obrigado Martim
Obrigado Diogo
Te ouvir é pura cultura!
Mais uma vez, obrigado aos dois
Muito AFETO!
Highlights (na minha humilde opinião):
Os memes, efeitos especiais, imagens, fotos etc salpicados ao longo do bate papo ilustrando o que é conversado. Dá frescor, informa, diverte e ajuda a contar a estória (com "e" mesmo). Loola esbaforido na rua fugindo do camburão. Tudo! Mas podia ter sido mais. Tantos livros foram citados. Cadê pop ups rápidos na tela com suas capas? Poderia. Edição esperta tipo MTV dá ritmo ao negócio e contribui pra manter a chama acesa. Não estamos no Manhattan Connection, mas no YouTube. Invistam.
Diogo não gosta de ficar falando à toa de Paulo Francis por achar que as pessoas não se interessariam, porque o assunto seria velho, batido e ninguém da nova geração nem saberia quem ele foi. O estagiário até concorda, mas jovem "coleguinha" da classe fez com que mudasse de ideia. Santo “coleguinha” a provar que se se fugir de salpicar Francis aqui e ali, a coisa desce a ladeira ainda mais nessa terra esquecida por Deus. Tem que esfregar Francis na cara de quem está chegando agora pra ver se a garotada entra no mundo adulto uma hora qualquer (mesmo os velhos) .
Diogo aponta como prova da existência de um suposto desinteresse por Francis a queda da audiência no YouTube - plataforma consumida pelos recém chegados - do programa Manhattan Connection que privilegiou Francis mesmo exibindo entrevistas inéditas com colegas dele etc. Não sabe dizer se na TV teria se dado o mesmo.
Entre outras coisas, suspeito que tal possa ter se dado também pelo fato de ter sido tão alardeado que em 4 de fevereiro seria exibido um programa inteiro sobre Francis, mas o que foi mostrado nada teve de inédito. Apenas reprise de outro tratando dele, acho que feito pelo GNT logo após sua morte, e disponível há muito no YouTube.
Segundo Diogo, “Francis representa um mundo que deixou de existir”. Verdade.
E de acordo com o outro, "uma das funções do site é exatamente resgatar Francis do limbo em que a própria imprensa o teria colocado". Esperamos que sim – favor notar o “plural majestático” tão apontado nessa “zona de interesse”.
Como disse Gustavo Krause no filme sobre Francis, que o adorava e em quem Francis descia o pau: “Ele faz falta pelo fato de se contrapor, por não pensar pela vulgata marxista e dizer as coisas com todas as letras”. Já destaquei tal num comentário aqui.
Ainda o estagiário: "Em seu trabalho como jornalista e escritor, o próprio Francis era muito preocupado em não deixar cair no esquecimento e recuperar um mundo - até idealizado - que ele via que estava indo embora".
Diogo : “A importância de Francis já se dava, desde a época da ditadura em que tudo estava censurado e proibido, pela prática de um TEMPERAMENTO (disse tudo) que contestava o que era oficial, pelo uso de uma linguagem até desrespeitosa com a tradição acadêmica” (não possível por qualquer um, só mesmo pelos Francis da vida)
Francis vale por aquilo que disparou na bancada do Manhattan Connection brincando com a correção política exibida em dado momento por Caio Blinder e Nelson Motta, impossível em pessoas adultas e ainda mais diante da vida como ela é desde que o mundo é mundo: “Ah, que vida simples que vocês levam!”
Ao invés desse site ter como mote a sentença de Tom Stoppard, deveria ter o contraponto ranzinza de Francis.
Como Diogo sublinhou, Francis contribuiu menos para sua formação intelectual e mais para sua formação como pessoa mesmo.
Quando ele silencia Diogo ao considerar tipos nefastos como Maluf, Delfim Netto e Collor (“alto, bonito e branco, branco ocidental”), todo mundo que o conhece, mais ainda Diogo, sabe exatamente no que ele está mirando no meio dessa selva desgraçada que é o Brasil. Por isso a importância de permitir que Francis espante (e exaspere) outros também, além do próprio Diogo. Como Francis sempre quis, isso empurra o Bananal para frente.
E na direção do que importa, como Diogo mesmo comentou: “Em Veneza, ele não ficava ocupado em falar dos rumos do Brasil e do mundo. Queria saber do mais importante: em qual restaurante iríamos jantar à noite”.
Que é o que interessa mesmo no final das contas. Porque ele já sabia que grande parte dos clientes da Livraria Cultura estava longe de ser sofisticada, a maioria de seus vendedores só queria conseguir pagar as contas no final do mês mesmo, as equipes que comandavam as lojas sempre pouco se importaram com o que acontecia fora delas na “vida pessoal dos vendedores” e para os Herz estes eram mesmo uns “merdas imprestáveis” como até os próprios clientes, como assinante do NEIM chegou a testemunhar os “chiques and lyndos” comentando na loja em alto e bom som diante de quem ia lá colocar dinheiro no bolso deles.
Como bem sublinhou o estagiário, “a conversa que Francis tinha com o leitor é que ele fosse adulto por si mesmo” e se livrasse de ser, “como a classe intelectual, um Maria-vai-com-as-outras”.
E como Diogo já contou, começou a ler Francis aos 12 anos e não entendia absolutamente nada.
Excelente começo.
Porque fundamental na vida é não entender nada mesmo, partir exatamente desse ponto para, ao final, chegar no mesmo ponto de partida.
O caminho? Francis ensinava: “O brasileiro se aproxima da opinião como um católico da Sagrada Escritura: o que está escrito é verdade. Eu tenho um ‘approach’ mais liberal, mais protestante. Toda opinião válida”.
O que fazia o ex-editor da Folha de São Paulo dizer sobre Francis: “A capacidade que ele tinha de usar uma linguagem pessoal, tocar em temas elevados e logo em seguida fazer uma fofoca, era fascinante”.
Boris Casoy concorda: “Não se abria o jornal para aprender história, ética ou moral com ele. Mas para ler Paulo Francis”.
Pois é. Como deixá-lo desparecer? Já prometi publicar aqui colunas antigas dele que recebo toda semana em grupo de WhatsApp. Já postei algumas e outras que já prometi, acabei esquecendo de publicar. Vou retomar seriamente. Contra o entendimento de Diogo.
Mais bate papos, por favor.
"Porque fundamental na vida é não entender nada mesmo, partir exatamente desse ponto para, ao final, chegar no mesmo ponto de partida"
Adorei seu comentário.. devia mandar para a seção de textos dos assinantes.
Publicar colunas antigas dele seria ótimo. Discutir o contexto da época conectando com os dias de hoje. Talvez esteja aí uma boa alternativa de manter viva a inteligência e a capacidade intelectual do Paulo Francis.
Nunca pensei tanto que publicar velhas colunas de Francis poderia dar oportunidade de se "discutir o contexto da época conectando com os dias de hoje" ainda que tal possa ser feito sem problema algum e seria ótimo também.
O que gosto de ver nas velhas colunas de Francis que recebo semanalmente de amigos é o que foi até sublinhado pelo estagiário ao perguntar a Diogo sobre o que conversaria com Francis quando o recebia em Veneza. Ele disse: "Tudo leva a crer que era uma conversa muito mais sobre postura de vida do que um olhar frio e
intelectual sobre a vida".
É isso que gosto de perceber, como todo mundo, nas colunas dele: seu olhar sobre a vida de que gosto muito. Boris Casoy comenta isso no filme sobre Francis. Todo mundo lia a coluna dele por causa do olhar dele sobre as coisas, não pra aprender nada - ainda que as colunas dele permitissem isso também
Por mim, acho que se as pessoas adquirissem o olhar dele sobre a vida (que aprecio muito) e nada aprendessem sobre história, ética ou moral, já lucrariam muito.
Lembro de muita coisa lida de Francis, sou capaz de repetir não só palavras e expressões inteiras que ele usou ao tratar de determinados assuntos, mas me recordo principalmente, como o outro sublinhou, sobre a "postura de vida" dele, seu olhar sobre as coisas. Talvez por isso eu lembre tanto de muita coisa que ele escreveu, memória de elefante mesmo. E talvez por aquilo que Nietzsche costumava dizer: quando a gente lê alguém e aprecia o escrito, a gente já sabia daquilo. Meu olhar sobre as coisas sempre foi idêntico ao dele. Quando tropecei nele na vida, "match" total.
E o charme, a verve, a diversão e a informação que vinham junto com sua opinião, como disse o outro no filme, "falar de algo elevado e logo após fazer uma fofoca", tornavam Francis irresistível. Ele sempre falou para adultos e daquele modo que só ele tinha. Incontornável.
Já publiquei duas colunas dele aleatórias que havia recebido no grupo de WhatsApp e vou colocar os links abaixo. Lembrei-me de outra que já havia recebido há muito por causa de um post publicado nessa "zona de interesse". Nele foi usada a expressão "rede de intrigas", nome de filme que adoro (e que é a cara de Paulo Francis, foi feito para ele (se você nunca viu, tem que assistir correndo; procure na internet)). O filme trata não do universo da televisão, ainda que aborde seus bastidores, mas da "postura de vida" das pessoas em qualquer lugar (inclusive na Livraria Cultura). É matador. Feito pra Francis mesmo. Assim, o texto aqui usou a expressão "rede de intrigas", lembrei do filme e de uma coluna de Francis em que ele falava, nos anos 70, sobre a guerra de foice na televisão e no telejornalismo.
(o mote de Francis sempre, pouco importa o assunto, é "a vida é uma guerra de foice selvagem"; e é mesmo, espero que você já saiba disso e não tenha problema com tal; o papo com ele é daí pra cima; criança não entra)
Mas voltando, por causa do texto publicado no NEIM, lembrei do filme e, por sua vez, da coluna de Francis, que nada tem a ver com o teor do texto aqui postado. Pouco importa. Importa a oportunidade de se ler Francis (a coluna dele sobre a televisão naquela época é irresistível ; está tudo lá). Comentei que iria publica-la e acabei esquecendo. Vou fazer. Mas existem outras duas aleatórias já postadas por mim. Confira se ainda não teve oportunidade usando o endereço abaixo: 👇
https://substack.com/profile/190187571-carlos-matta/note/c-51527851?r=358do3
https://substack.com/profile/190187571-carlos-matta/note/c-51175994?r=358do3
Só vi agora. Ótima seleção. Vou ler. Thanks!
https://substack.com/profile/190187571-carlos-matta/note/c-52488224?r=358do3
Ainda vou publicar a coluna dele sobre televisão. Quando fizer, colo o link aqui
Acompanhei Paulo Francis desde o Pasquim. É sempre um prazer ouvir falar sobre ele. Nunca tive dúvidas sobre a sua importância na cultura brasileira. E sempre achei o FHC um babaca,podia ter acabado com aquela perseguição do povo da Petrobrás. Desejo muito mal à ele.
Saudades de ser alimentado intelectualmente pelo Diogo. Seu retorno já não era sem tempo Diogo! Obrigado por tudo o que escreve e fala. Brasil precisa de você. Como sugestão para os próximos programas: indicações de livros e resenhas…Abraços