Ao nos depararmos com um intelectual que responde apenas às perguntas que sua emburrecida cachola faz, é comum chamá-lo de intelectual da torre de marfim. O vídeo que postamos hoje pela manhã, em que o professor João Cezar de Castro Rocha regurgita suas teses amalucadas, precisa de algumas considerações.
Ao assistirmos o vídeo, parece que estamos vendo um spin-off de The Office. Michael Scott não era mais o gerente de uma empresa de papel, mas um professor de literatura comparada que acredita ter a capacidade de falar sobre todos os assuntos possíveis.
A quem não viu, o resumo é o seguinte: num programa jornalístico, o intelectual em questão falava num tom surpreso e empolgado. Aquele mesmo tom da criança que descobre que a pecinha redonda se encaixa perfeitamente no buraco redondo do brinquedo que mamãe lhe deu. É fofo, a gente acha legal, mas não tem surpresa nenhuma lá.
“O que descobri fará com que todos caiam da cadeira. Minha descoberta é inédita e ajudará a entendermos a direita transnacional”, disse a criança animada com seu brinquedo educacional nas mãos.
A boca do intelectual abria e fechava com avidez e entusiasmo: Teologia do domínio, ele falava, enquanto todos faziam cara de paisagem. “É uma teologia”, voltou a balbuciar o professor, “do domínio político e da imposição violenta da própria fé e do próprio Deus sobre todo aquele que pensa de maneira diversa”.
Onde ele leu isso? No manifesto? No Alcorão?
A escassa literatura sobre teologia do domínio – também conhecida como teologia dos sete montes – não fala absolutamente nada de domínio político por imposição violenta da fé – nem vale a pena comentar sobre imposição violenta de Deus, porque a frase sequer faz sentido. Do que o professor está falando, afinal? Será que ele pegou algum verbete da Wikipédia e está adaptando-o às suas exegeses políticas? Não deve ser o caso. Nem a famosa enciclopédia livre erra tão feio desse jeito.
Mas sejamos justos com o professor. Ele pode ter trocado as bolas, lido algum teonomista e pensado ter lido algum autor pentecostal? Até pode ser. Entretanto, além de historiador, o residente da torre de marfim tem formação na área da literatura, o que pressupõe leituras mais atentas, não é mesmo? Não satisfeito, suas pesquisas são todas voltadas às obras de Machado de Assis e René Girard, o Darwin das ciências humanas. Ele tem seu mérito e não pretendemos tirar-lhe o pouco que lhe resta. Mas parece que todo o esmero da sua produção desaparece quando ele busca colocar o nariz assustadoramente grande no lugar em que não foi chamado.
Talvez esteja mimetizando seu mestre, mas a evolução ainda não lhe permitiu evoluir devidamente para fazê-lo com mais precisão. É preciso calma, professor.
A teologia do domínio é real e foi ensinada na primeira década dos anos 2000 nos seminários mais famosos do Brasil – mais famosos, mas não os melhores – e hoje ela é seguida por figuras famosas do cenário evangélico bolsonarista – eis o link perfeito para falar groselha, não é, professor?. Embora seja uma teologia ruim, ela não é neopentecostal. Inclusive, teologia neopentecostal é um termo péssimo e academicamente impreciso. Como bom acadêmico, ele deveria saber disso, principalmente por estar falando em rede nacional.
Cuidado! Assim o senhor corre o risco de lembrar os militantes extremamente destros que tanto critica. Pior ainda! Pode lembrar o velho Conde Olaf da Virgínia.
Você não deseja isso... Deseja?
Não satisfeito em descobrir a roda e besuntá-la de esnobismo cronológico, o professor se aventura em fazer exegese bíblica e cultural e – pasmem – demonstra não saber fazer nem uma, nem outra.
“Eles não seguem mais Jesus, Moisés, Salomão ou José... Eles seguem Davi!”
É preciso voltar para nos certificarmos de que não ouvimos errado.
Foi isso mesmo que ele falou.
Segundo esse intelecto privilegiado, a teologia do domínio faz com que as pessoas imitem Davi, não Jesus. A extrema-direita mimetiza o Davi que adulterou, assassinou, mentiu. Ela se vê no personagem e transforma líderes como Bolsonaro, Trump e Millei nos ungidos que podem fazer o mesmo que Davi fez, afinal, são os ungidos do Senhor.
Essa é uma confusão que nem mesmo alunos no primeiro semestre de um seminário livre de teologia, daqueles bem obscuros, teriam feito. Afinal, eles não estão presos na torre de marfim, eles conhecem a realidade.
Caso o Brasil fosse um livro de realismo mágico, o professor teria feito uma ótima análise e todos elogiariam seu trabalho como crítico. Não é o caso.
Infelizmente, o comentário do professor mostra apenas que estamos presos a uma narrativa machadiana onde o narrador, além de irônico, mente na nossa cara.
Se isso escapou a quem se entitula machadiano por excelência, o que mais não deve ter escapado?
Para se entender o que significa o Nacionalismo Cristão - que é o verdadeiro galo que canta e o professor não consegue identificar, por estar correndo atrás de patos - deve-se trabalhar em suas origens.
Rousas Rushdony é identificado como seu expoente. Desde 1965 ele elaborou a base para ao que se denominou Reconstrucionismo Cristão. Essa é a primeira geração.
A segunda pode ser encontrada em Peter Wagner com a NAR (New Apostolic Reformation) e seu livro Dominio! Your Role in Bringing Heaven to Earth. Wagner tem livros traduzidos e teria vindo várias vezes para conferências no Brasil.
A terceira geração é trazida pelo Mandato das Sete Montanhas e tem em Lance Wallnau seu grande promotor. Este hoje é um trumpista ferrenho. O grande argumento utilizado em relação a Trump, é que este seria o novo Ciro (rei Persa pagão, dos tempos bíblicos), que permitiu ao povo judeu no exílio, retornar a Jerusalém pra reconstruir o templo.
Há hoje nos EUA filhotes dessa terceira geração, que resultou no 6 de janeiro. E movimentos menores emergiram como An Appeal to Heaven (bandeiras e flâmulas eram evidentes na invasão do Capitólio). O Speaker of the House (o presidente do Congresso americano) Mike Johnson é outro filhote dessa onda a tomar conta da política americana e dos Republicanos trumpistas.
Agora aqui no Brasil, apesar do abuso que a IURD e o bispo Macedo fazem de símbolos judaizantes do Antigo Testamento, no fundo é tão somente parafernália criativa a dar ares de liturgia com rituais pomposos. O templo de Salomão é a expressão máxima dessa linha. Até hoje, apesar dos discursos em favor deste ou daquele candidato, não existe uma teoria construída a emergir em ideologia. O partido Republicanos cresce no meio da Universal pelo fenômeno do voto de cabresto.
Malafaia por sua vez ainda hoje é aderente à Teologia da Prosperidade, uma vez que em demanda por receitas financeiras, trata-se do mais forte arcabouço teórico e argumentativo a tirar dinheiro dos fieis. Como o mais íntimo colaborador de Bolsonaro, em nada confirma a teoria do professor.
Obrigada NEIM! Eu não consegui ouvir o lunático, meus escutadores se recusaram...kkkk
Não perdi nada e guardei meu exercício de audição pra outra hora. 🙌
Esse cara é um lixo!