“Me engana que eu gosto.”
Essa poderia ser a manchete da Folha de S.Paulo para o texto que fala de como a Geração Z, a nova coqueluche do mercado de notícias (os millenials já foram chutados, entre outros motivos, por causa do burnout). A revista The Economist dedicou um especial na última edição com aquele texto solene e presunçoso. Mas o gancho é da Folha de S.Paulo por um motivo bastante singular:
Geração Z busca flexibilidade e propósito no setor público, dizem especialistas
Jovens buscam ambientes dinâmicos e hierarquias mais abertas, aspectos que hoje não são comuns em entidades públicas
O estagiário do NEIM sempre ouviu de parentes e familiares que a melhor opção de carreira é o setor público. Nada a ver com propósito de vida: antes, com estabilidade, afinal, quem não quer garantia de não ser demitido jamais e ainda poder gozar de licença prêmio e outras benesses? É bem verdade que o regime de previdência mudou, mas, dada a volatilidade das empresas no Brasil, a insegurança jurídica que afasta investimentos e a falta de perspectiva de futuro, um emprego para sempre não parece má escolha.
Todavia, a Folha de S.Paulo foi lá consultar os çábios que se saíram com essa ladainha de propósito, típico dos textões que poluem o LinkedIn e que ainda vão provocar uma nova revolta do subsolo. Enquanto isso não acontece, vejamos os argumentos:
Embora a procura por cargos no serviço público federal esteja associada aos salários médios maiores e à estabilidade, esse grupo valoriza ainda mais outros aspectos, de acordo com especialistas.
Eles querem atuar em lugares que se conectem com seus valores pessoais, como respeito à diversidade e ao ambiente, e proporcionem maior equilíbrio entre vida privada e profissional.
O leitor do NEIM já sabe que está na hora de ligar nossa maquininha, o tradutor do lero-lero. Leiamos então: é interessante notar que mesmo a reportagem da Folha reconhece os fatores “estabilidade” e “salários médios”. Ainda assim, no parágrafo seguinte, dobra a aposta ao apresentar a ladainha ESG: “respeito à diversidade e ao ambiente” e “maior equilíbrio entre vida privada e profissional”.
Com relação ao primeiro ponto, o respeito à diversidade tem mais chance de ser imposta no serviço público, sobretudo quando se considera quem são os mandarins da vez. Se, num passado não muito distante ( entenda: na época do bolsonarismo), a Fundação Alexandre de Gusmão abrigava a gentalha que falava de Relações Internacionais sem ter qualquer formação para isso, agora, quando o Brasil voltou, consta que Marcia Tiburi deu palestra sobre ética e gênero na Petrobrás que custou R$ 35.247,00 aos nossos bolsos puídos.
Já no que se refere ao maior equilíbrio entre vida privada e profissional, não é preciso da palestra de uma Marcia Tiburi. O serviço público é o que garante com mais fidelidade o equilíbrio entre vida privada e profissional – pois, no serviço público, como diz o sonho, ninguém vai ficar recebendo mensagem fora do horário de trabalho e haverá chance de progressão sem necessidade abdicar das férias de 30 dias.
São esses os valores valorizados pela Geração Z. Quando eles acabarem porque o Brasil está prestes a falir, fiquem sossegados porque a revolta gestada há tempo finalmente sairá dos gabinetes para as ruas.
Quem viver verá.
Resumindo : "Querem grana,estabilidade,não ser subordinados à ninguém e ainda pagar de bonito pra cima do trabalhador da iniciativa privada que acorda às 5 da manhã"
Ótimo texto!
Eu estou digladiando comigo mesma, porque vou tentar um concurso público municipal, pelos motivos mencionados. E me sinto muito angustiada com qualquer resultado: se eu passar e se não passar! Se passar, terei que conviver com quase tudo que abomino no ambiente de trabalho. Se não passar, continuarei angustiada com a perspectiva de me aposentar só quando eu morrer!!!! Continuo sonhando em ganhar na loteria, mesmo quando não jogo!