#OMistérioJonFosse (3)
A hipnose de uma obra literária famosa, mas ainda pouco compreendida
[Leia a segunda parte do ensaio]
Espiritualidade e seu oposto
Jon Fosse, através de uma profunda conexão com a cultura e geografia de seu país, expressada deliberadamente em uma língua "mais norueguesa", tem influenciado outros grandes autores conterrâneos, e agora também estrangeiros. Sua prosa é frequentemente descrita como hipnótica. Como ele faz isso? O romance de Jon Fosse mais fácil de ler, e mais complexo para entender, é Brancura. Em 60 páginas, um homem dirige, uma noite, para dentro de uma floresta, até o final de um caminho silencioso. Para o carro, sai e continua a caminhar floresta adentro. Na escuridão, encontra uma presença luminosa, que se manifesta como seus pais (falecidos), como um homem de terno, e como uma voz sussurrante. Em vez de medo, essas aparições lhe trazem paz. A narração, também em primeira pessoa, tem um tom sereno, comedido, como se o encontro fosse inevitável. Há muitas possibilidades de interpretação, nenhuma delas realista. Mesmo para um leitor agnóstico, a mais plausível envolve a transcendência.
Na ficção mística de Jon Fosse a trama é um apêndice da consciência. Os eventos não acontecem, eles se repetem em círculos concêntricos cada vez maiores. Os protagonistas funcionam como torres de repetição espalhados por esse tabuleiro redondo. A vida rotineira é regrada – ou desregrada – por pensamentos e frases ao qual o protagonista retorna compulsivamente, ajustando, escavando, reconstruindo em intenções raramente consumadas. No caso de protagonistas artistas sob tensão, e há vários em sua obra, os estados de consciência assumem dimensões dramáticas: paranoia, alucinações, mania. É assim que Fosse investiga os limites da vida e da arte, e as dificuldades na vida do artista.