#OMistérioJonFosse (4)
A hipnose de uma obra literária famosa, mas ainda pouco compreendida
[Leia a terceira parte do ensaio]
Repetir é hipnotizar
Jon Fosse é o mestre da repetição. Seus personagens estão sempre repetindo as mesmas perguntas, acrescidas de alguma narração, mas nunca chegam a uma resposta. O que pode parecer entediante ou inútil é justamente o encanto da obra desse autor. As comunidades representadas nos romances, contos e peças teatrais de Jon Fosse são minúsculas, frequentemente de apenas um domicílio. Os personagens não têm pretensões mundanas, suas dificuldades são de natureza puramente existencial. Muitos de suas histórias se passam em Bjorgvin, que é um nome arcaico para a moderna cidade de Bergen. Usando o termo antigo ele evoca os vilarejos remotos, escuros, e não a atual. Algo semelhante a tratar o Brasil pelo nome de Terra de Vera Cruz. Bjorgvin é, por vezes, o mais parecido com a civilização que seus personagens podem encontrar.
Nesse vazio de objetos Fosse encontra o material elementar do qual o ser humano é feito, como a escuridão do fiord, o céu de cores intensas mas insondável, a infinitude do mar. Tudo isso composto em nynorsk, linguagem simples e difícil ao mesmo tempo, de palavras curtas que formam frases curtas, ou que podem ser encadeadas em um romance de 700 páginas, como em Septologia, constituído de uma frase só, do começo ao fim.