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Avatar de Antonio Guerrero

Ontem, quando vi Endrick entrar em campo, antes do gol, pensei: "Talvez esse garoto seja o futuro". Não porque é craque, mas porque é craque evangélico. Explico.

Até pouco tempo, tinha a opinião-padrão: evangélicos são massa de manobra, pobres-coitados manipulados por pastores charlatões, e, a partir do bolsonarismo, manipulados também politicamente. Tudo verdade, mas só metade da verdade. A realidade é complexa. O ideal seria que o indivíduo tivesse só a si como guia entre as veradas imprevisíveis da vida. Esse é o verdadeiro forte, não aquele que esmaga o fraco (esse é o bandido). Dane-se o ideal. A imprevisibilidade da vida contém a própria fraqueza humana perante ela. Os evangélicos são pobres-coitados, iludidos, fracos, mas, no fim, que ser humano não o é? Admiro quem só tem a si contra o mundo, mas esse é minoria. Voltemos ao futebol.

Vislumbrei o futuro em Endrick pensando no velho estereótipo do craque brasileiro: o malandro. O último malandro funcional foi Romário. Depois dele, a malandragem deixou de ser a fonte do sucesso para ser a raiz do fracasso brasileiro nos campos. Ronaldinho Gaúcho, apesar de campeão do mundo, foi um fracasso, porque deveria ter sido maior que Messi. Mas enquanto o argentino estampou a capa da Time, o brasileiro bateu bola numa prisão paraguaia. A malandragem atinge o seu nadir com Neymar, o falso malandro, o eterno adolescente que se imagina malandro. Nele, a malandragem vira a mais pura babaquice: o craque intratável, incontrolável, cujo técnico não vê outra opção senão tratá-lo com regalias que humilham os companheiros de time. Romário era assim, mas trouxe a taça. Neymar, não. Importa? Nada. Tem uma balada-monstro para aproveitar, para desfilar toda a sua babaquice juvenil entre os parasitas da boa vida. O fim do futebol brasileiro é o fim da malandragem, na figura estupidamente juvenil de Neymar. Voltemos a Endrick.

Vaticinar é dar a cara a tapa, e as chances de terminar com um crachá de idiota no peito são grandes, mas, idiota que sou, vou adiante. Talvez a ética evangélica seja o antídoto. Superada a malandragem (quer marco maior para o fim da malandragem que o Petrolão? Lula foi solto e é presidente, mas as ruas estão vazias de petistas. "Onde estão os black blocs", perguntou Sérgio Manberti), é hora da seriedade, de ser adulto e decente. Eu sei, há os malafaias do mundo para revirar o estômago do leitor e jogar no lixo o meu argumento. Mas digo: não o superestime. Há mais vida própria nos evangélicos do que supõe o nosso vão cinismo. O âmago da questão é este: Endrick é, sim, o anti-Neymar, e talvez isso seja um bom negócio para o futebol brasileiro. Talvez.

Há um segundo ponto, má notícia para o Brasil: nas últimas décadas, o futebol se tornou o esporte do homem que pensa. Entre ter Guardiola ou Messi no seu time, os espertos escolhem o primeiro. E nesse quesito, o homem que pensa, Jesus não salva. Com ou sem maladragem, estamos ferrados. Alguém está a fim de assistir a um jogo de vôlei comigo? Nem eu.

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Avatar de Carlos

Acho que além do crônico problema de gestão, tivemos uma geração fraca, muito dependente de um jogador (Neymar) que não se mostrou a altura da responsabilidade. Vislumbro dias melhores, não pela melhora na gestão do nosso futebol, mas por estarmos diante de uma promissora geração de jogadores que demostra compromisso com o esporte.

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