Sempre gosto de autores que são odiados pela direita e pela esquerda, ou amados por ambas, cada uma apontando na obra os motivos opostos. A esquerda ama Orwell (mas não o lê) porque "ele defendia o proletariado (B.S.!) e a direita o ama porque expôs a verdade sobre Stalin (sim, mas fez bem mais do que isso). Ambos os lados perderam algo muito maior, como mostra o ensaio do MVC. Mal espero para você nos brindar com um sobre Lampedusa, igualmente incompreendido.
Acho que Orwell as far as skin in the game goes, foi o campeão dos campeões. Tanto por ter descartado a educação em Eton e ter ido primeiro pra Burma ser policial do império e depois pra Paris ser quase mendigo, e servir na Catalunha e até virar carvoeiro em Wigan Pier. Coragem.
Ele realmente escreveu sobre o que viveu. De certa forma Hemingway fez algo parecido na Itália e até na Normandia mas com uma certa pretensão e despreocupação com os oprimidos.
Num vale tudo entre os dois escolheria Orwell.
Hoje estamos inundados de "midia" e não sei quem herdou o cetro de Orwell? De certa forma Hitchens mas morreu cedo também, mas teve coragem a lá Orwell.
Que sorte tivemos que o homem certo estava na hora certa no lugar certo, quando as placas tectônicas do totalitarianismo estavam se debatendo com um peixe recém pescado, e ele foi lá e documentou tudo, sempre arriscando a própria pele.
Uns meses atrás estava em Londres tomando um pint com um amigo. Olho pra cima e tinha uma plaquinha na parede: "George Orwell drank here".
Engoli a seco, fui ao banheiro e dei uma chorada.
Aquela chorada irreconciliável de quando você perde um amigo que não vai voltar.
É uma sátira da realidade! E não deixa de ser trágica, porque a individualidade está cada dia mais ofuscada! E estamos cada dia mais cercados e nossos comportamentos mais vigiados e censurados!
Sobre o título, além de se prevenir dando uma ideia futurista, foi uma super sacada! Era gênio!
Sobre a lista, Chaplin não foi uma surpresa para o mundo, sobre os outros não sei, mas Chaplin era "assumidamente" comunista ou "socialista"..... não teve grande impacto a divulgação do seu nome!
Esse ensaio me fez ver 1984 ao avesso. Confesso que desconhecia o termo swiftiano, mas o dicionário Priberam me salvou (o Aulete passa ao largo). Fui recompensado ao final da leitura: "enquanto nossos corpos são arranhados no arame farpado do nosso estado de exceção disfarçado de democracia." Por isso, aqui cabe: o ensaio é swiftiano. Parabéns, MVC.
Na Rússia, este livro é considerado proibido. É provável que seja um retrato fiel do Rashismo de Putler.
No início da guerra com a Ucrânia, o artista Dimitri Silin foi preso por distribuir gratuitamente exemplares de "1984", sob a acusação de "desacreditação do exército russo". Essa é uma acusação usada para aplacar qualquer tentativa de se opor à guerra, como mostrar um papel em branco.
Seria interessante ter falado um pouco mais sobre seus dias em Burma, como policial do império, recém saído de Eton (estudou lá por bolsa de estudos), onde viveu cara a cara com as castas superiores inglesas.
Tanto Eton como Burma importantes pra jogá-lo mais a esquerda ainda jovem e ver algumas barbaridades do império, imperio o qual acabaria por defender.
Grande crônica dos dias em Burma sobre um elefante descontrolado:
Paul Theroux, talvez o melhor travel writer da história (The Great Railway Bazaar, the Old Patagonian Express e tantos outros), e também campeão na ficção (Mosquito Coast) acabou de lançar uma ficcionalização dos tempos de Orwell em Burma, chamado Burma Sahib. Li e gostei.
Sempre gosto de autores que são odiados pela direita e pela esquerda, ou amados por ambas, cada uma apontando na obra os motivos opostos. A esquerda ama Orwell (mas não o lê) porque "ele defendia o proletariado (B.S.!) e a direita o ama porque expôs a verdade sobre Stalin (sim, mas fez bem mais do que isso). Ambos os lados perderam algo muito maior, como mostra o ensaio do MVC. Mal espero para você nos brindar com um sobre Lampedusa, igualmente incompreendido.
Acho que Orwell as far as skin in the game goes, foi o campeão dos campeões. Tanto por ter descartado a educação em Eton e ter ido primeiro pra Burma ser policial do império e depois pra Paris ser quase mendigo, e servir na Catalunha e até virar carvoeiro em Wigan Pier. Coragem.
Ele realmente escreveu sobre o que viveu. De certa forma Hemingway fez algo parecido na Itália e até na Normandia mas com uma certa pretensão e despreocupação com os oprimidos.
Num vale tudo entre os dois escolheria Orwell.
Hoje estamos inundados de "midia" e não sei quem herdou o cetro de Orwell? De certa forma Hitchens mas morreu cedo também, mas teve coragem a lá Orwell.
Que sorte tivemos que o homem certo estava na hora certa no lugar certo, quando as placas tectônicas do totalitarianismo estavam se debatendo com um peixe recém pescado, e ele foi lá e documentou tudo, sempre arriscando a própria pele.
Uns meses atrás estava em Londres tomando um pint com um amigo. Olho pra cima e tinha uma plaquinha na parede: "George Orwell drank here".
Engoli a seco, fui ao banheiro e dei uma chorada.
Aquela chorada irreconciliável de quando você perde um amigo que não vai voltar.
É uma sátira da realidade! E não deixa de ser trágica, porque a individualidade está cada dia mais ofuscada! E estamos cada dia mais cercados e nossos comportamentos mais vigiados e censurados!
Sobre o título, além de se prevenir dando uma ideia futurista, foi uma super sacada! Era gênio!
Sobre a lista, Chaplin não foi uma surpresa para o mundo, sobre os outros não sei, mas Chaplin era "assumidamente" comunista ou "socialista"..... não teve grande impacto a divulgação do seu nome!
Já li,e melhor ainda porque é de graça.
Esse ensaio me fez ver 1984 ao avesso. Confesso que desconhecia o termo swiftiano, mas o dicionário Priberam me salvou (o Aulete passa ao largo). Fui recompensado ao final da leitura: "enquanto nossos corpos são arranhados no arame farpado do nosso estado de exceção disfarçado de democracia." Por isso, aqui cabe: o ensaio é swiftiano. Parabéns, MVC.
Na Rússia, este livro é considerado proibido. É provável que seja um retrato fiel do Rashismo de Putler.
No início da guerra com a Ucrânia, o artista Dimitri Silin foi preso por distribuir gratuitamente exemplares de "1984", sob a acusação de "desacreditação do exército russo". Essa é uma acusação usada para aplacar qualquer tentativa de se opor à guerra, como mostrar um papel em branco.
https://zn.ua/WORLD/rossija-objavila-vojnu-antiutopijam.html
Seria interessante ter falado um pouco mais sobre seus dias em Burma, como policial do império, recém saído de Eton (estudou lá por bolsa de estudos), onde viveu cara a cara com as castas superiores inglesas.
Tanto Eton como Burma importantes pra jogá-lo mais a esquerda ainda jovem e ver algumas barbaridades do império, imperio o qual acabaria por defender.
Grande crônica dos dias em Burma sobre um elefante descontrolado:
https://www.orwellfoundation.com/the-orwell-foundation/orwell/essays-and-other-works/shooting-an-elephant/
Paul Theroux, talvez o melhor travel writer da história (The Great Railway Bazaar, the Old Patagonian Express e tantos outros), e também campeão na ficção (Mosquito Coast) acabou de lançar uma ficcionalização dos tempos de Orwell em Burma, chamado Burma Sahib. Li e gostei.