[Leia a terceira parte do ensaio]
Berlim
Vuillard encerra o romance colocando o holofote sobre Gustav Krupp, que na reunião em 1933 contribuiu à eleição do Partido Nazista com a maior doação, um milhão de marcos. Para Krupp, esse foi um investimento que se pagou regiamente. Durante o período de governo nazista, Krupp e outros industriais 'empregaram' em suas fábricas prisioneiros dos campos de concentração, especialmente Mauthausen, Ravensbruck e Auschwitz. As condições de trabalho eram imorais: escravidão, fome, sujeira e frio. Os prisioneiros morriam rapidamente de epidemia, ou em poucas semanas, de fome ou congelamento. A força de trabalho gratuita e por vários anos, inesgotável, verteu lucros milionários. Não duraria para sempre: dos 600 prisioneiros que chegaram à Krupp em 1943, só 20 estavam vivos após um ano. Mesmo descontando as indenizações pós-guerra que as companhias foram obrigadas a pagar aos judeus que sobreviveram, o lucro foi imenso.
Turka
Helena e Bumek sobrevivem, até 1941, ora escondidos, ora em fuga, mas em 1942, quando nasce seu filho Yaakov - apelidado de Kobi - fica mais perigoso. Durante o dia Helena esconde-se com o nenê, e à noite sai para procurar comida nas latas de lixo. Às vezes alguém dá uma batata ou um punhado de aveia. Bumek, já um médico muito conhecido, é designado pelo comandante da Guestapo como seu médico particular. Isso não lhe dá nenhum privilégio, só torna qualquer tentativa de sair da cidade um crime. Mesmo assim, fogem com Kobi para as montanhas. Bumek acaba salvando a vida do filho de um camponês que teria morrido de apendicite. Por gratidão, o camponês oferece-se, apesar do risco, para levar o nenê até parentes de Helena na Hungria, onde a situação está menos ruim. É a única chance de Kobi. Despedem-se aos prantos, confiantes que um dia irão buscá-lo. Nunca mais o viram.