Dizia Chesterton que o problema da guerra não é que ela seja violenta, mas que ela seja desonesta. Se ele vivesse hoje, teria matéria farta para atualizar a frase: guerra moderna é um teatro onde o inimigo, na prática, recebe o salário do próprio adversário.
O caso do Afeganistão escancara isso com uma perfeição constrangedora. Segundo dados do próprio circuito de inteligência ocidental, entre US$ 40 e US$ 47 milhões em “ajuda humanitária” são enviados semanalmente para Cabul — não em caixas escondidas ou malas diplomáticas, mas em aviões oficiais, auditados, com logos da ONU e de órgãos de assistência internacional governamental, como a finada USAID.
Naturalmente, metade desse dinheiro vai parar direto nos cofres da administração Talibã. E não estamos falando de burocratas municipais ou hospitais públicos: trata-se de pagamentos regulares a figuras como Sirajuddin Haqqani, ministro do Interior e membro da lista do FBI, ou Abdul Haq Wasiq, chefe da inteligência talibã, ex-detento de Guantánamo. É o tipo de coisa que faria Maquiavel sorrir com aquele canto de boca: tudo muda, mas o essencial permanece.
Mais curioso ainda é o destino da outra metade dos fundos: “ONGs” administradas pelo próprio Talibã, encarregadas de distribuir benefícios às famílias dos “mártires” — ou seja, de terroristas mortos atacando soldados ocidentais. Traduzindo em português claro: o contribuinte americano hoje não apenas financia a máquina do Talibã, mas ainda paga pensão para viúva de homem-bomba.
E o que diz a opinião pública ocidental? Quase nada. Porque o tema foi embalado na linguagem sedativa da tecnocracia: “acordos de Doha”, “combate ao ISIS”, “estabilização da região”. Como se fosse uma equação neutra, um problema técnico.
Foi assim que chegamos ao paradoxo máximo: em 2001, a Al-Qaeda tinha cinco campos de treinamento no Afeganistão. Hoje são mais de quarenta. De seis mil membros, saltaram para cento e quarenta mil globalmente. Tudo isso depois de vinte anos de ocupação, trilhões de dólares gastos e incontáveis relatórios declarando “missão cumprida”.
A questão que sobra não é nova, mas continua atual: quem governa realmente — o Estado ou as engrenagens que se alimentam da sua guerra permanente?
E quem ousa levantar essa pergunta, quase sempre, é tratado como traidor da democracia, inimigo da ordem ou agente do caos.
No fim das contas, como já notava Tocqueville, não é necessário proibir as pessoas de pensar. Basta fazer com que todos digam as mesmas coisas. E para isso, poucas ferramentas são tão eficazes quanto uma guerra infinita travada em nome da paz — e financiada pelo próprio bolso do cidadão.
Há quem ache que a ONU é inútil. Na verdade, é perniciosa. Virou teatro para falas progressistas e cantilenas de países totalitários.
Bah. Que porrada, cara! Adorei! Abraço