#SóOsIntelectuaisSãoFelizez
Por mais que insistam em desistir da razão, a razão insiste em não desistir deles
O intelectual é tão frequentemente um imbecil que
deveríamos sempre tomá-lo como tal,
até que nos tenha provado o contrário.
— Georges Bernanos, A França contra os robôs
A figura do intelectual sempre esteve envolta num certo glamour, ainda que nos dias atuais ela esteja bastante depreciada. Muita gente, entre as décadas de 1950 e 70, cresceu com um poster de Jean Paul Sartre na porta do armário. Outros mais ousados sonhando com a derrière de Simone de Beauvoir.
Os intelectuais foram as estrelas dos arquivos de Moscou e das fichas de subversivos do DOPS. Chegaram a ser mais reverenciados que as estrelas do rock e ninguém ousava questionar suas exposições teóricas, até porque quase ninguém entendia.
Dizem que Sartre sempre terminava seus textos extasiado e gritando à procura da mulher: “Simone, Simone, hoje escrevi algo tão fabuloso que nem mesmo eu entendi”.'
Ele foi inegavelmente um escritor brilhante que conseguia nos deixar estupefatos com sua espantosa distinção do ser absoluto da consciência (pour-soi) e do ser en-soi materializado, para no final chegarmos à quase inacreditável conclusão de que o Ser é o nada. Porque se o ser em si mesmo não tem sentido, ele não pode dar sentido às coisas do mundo. Portanto, é um nada, apenas uma matéria que se desfaz com o tempo. Mas nada é tão simples: como não pode existir um en-soi sem um pour-soi, nem um pour-soi sem um en-soi, dessa relação dialética emerge uma consciência. Então, conclui Sartre, também de forma quase inacreditável, que a consciência humana é também uma ilusão. Portanto, resta-nos apenas o descompromisso, o abandono do esprit du sérieux. Enfim, o Ser é o nada. E nada vale a pena.
Pode parecer exagero, mas essa falta de sentido do mundo deve ter alguma coisa a ver com essas ideias mirabolantes que os intelectuais inventam nas suas viagens abstratas do pensamento. A vida é simples, mas a explicação dela é sempre muito complexa e exige um esforço intelectual sobre-humano. Por isso, é quase inevitável ficar teorizando como Sartre até se perder completamente. A verdade é que, em todos os manicômios, há malucos com muitas certezas. Porque todos sabem que é possível conquistar o mundo antes mesmo de levantar-se da cama. Sonhar conquistas maiores do que Alexandre e Napoleão. Pensar filosofias que nenhum Kant ousou escrever e, claro, fazer até versos mais paradoxais do que os de Fernando Pessoa.
O ser humano se pretende racional, mas na maioria das vezes se deixa guiar pelo espetáculo da estupidez. Não é o que vemos nos debates públicos? Hoje em dia todo mundo tem algo a nos ensinar. É o coach apalermado, o invasor dissimulado e até mesmo os semideuses do judiciário.
Pior que todos eles juntos, ainda é o intelectual de profissão. Porque é um parasita, um eterno cúmplice do poder. Ele não quer ensinar nada, quer apenas pontificar. Exige respeito, fala em nome da ciência, do iluminismo, das mentes esclarecidas, mas é tudo encenação. Está sempre disposto a se vender por muito menos do que um prato de lentilhas, por isso mesmo adere tão facilmente à primeira lorota ideológica que lhe parecer conveniente. Chega a ter algum talento; pode até ter uma ou outra obra, só não tem caráter.
Mas o intelectual deveria tem um papel importante na cultura. Para Karl Mannhein, ele tem de ser autônomo (freischwebender intellektueller) para fazer suas reflexões sem nenhuma aspiração pessoal e, principalmente, sem nenhuma promiscuidade com o poder. Mannhein via a sociedade moderna mais aberta por conta da disseminação dos sistemas educacionais. Com o conhecimento científico mais universalizado, estava surgindo um novo tipo de intelectual, desvinculado do seu grupo ou classe social de origem.
Ilusões, diria Sartre. O otimismo de Mannhein poderia até causar náuseas ao philosophe francês. Porque ele acreditava seriamente que a verdadeira disposição do homem é a angústia. Diante de um mundo sem sentido, resta apenas o ceticismo universal. Diante da falta de valores comuns, o ser humano deveria criar seus próprios valores a partir da sua experiência subjetiva, ignorando solenemente a realidade à qual estamos inseridos. Um suicídio filosófico, dizia Albert Camus. Mas quem se importa?
A contradição humana faz todo esse ceticismo universal se transformar, de repente, em uma alegria que desconcerta. Porque, no fundo, todos estão tentando encontrar uma esperança, um sentido para as coisas sem sentido.
Interimens rationem sustinet rationem, diz São Tomás de Aquino. “Aquele que mata a razão, ressuscita-a ao mesmo tempo”. A busca da verdade é inerente ao pensamento humano. E mesmo a sua negação só é possível através da sua afirmação, afinal, a mentira não é racionalmente afirmada como mentira, mas como verdade irrefutável.
E é aí mesmo que está a superioridade do intelectual. Só eles são felizes. Diante da rua sem saída da doutrina do absurdo universal, o existencialista encontra a felicidade num sistema filosófico que fundamenta o próprio caráter absoluto do absurdo universal. Mannhein também encontra aquela alegria desconcertante no seu conceito de freischwebender intellektueller. E mesmo o depreciado intelectual de profissão torna-se um sujeito feliz ao ser incorporado ao sistema com a sua cumplicidade e bajulação aos poderosos.
O inferno não é os outros, como pretendia Sartre. Mas “acreditar no paraíso por engano”, como dizia Simone Weil.
Caro Diogo Dois, tenho pavor dos ditos intelectuais brasileiros, takeospariu! Eles trouxeram à cena politica animais como Lula, Zé Dirceu, Zé Genoíno, Zé Cueca 🩲 e toda a renca de esquerdistas que não têm a mínima noção sobre como o mundo funciona. Sartre (um corno assumido) e Simone não são exemplo para nada, mas nada mesmo. Relacionamento aberto é a puta que os pariu! É este padrão moral que bunitinhos da esquerda admiram.
Este burro velho já vem falando do assunto há uns 15 anos, quando se comentava os livros de Paul Johnson e Raymond Aron. Na América Latina, Octavio Paz e Carlos Rangel já escreveram sobre o mito dos intelectuais. Mudou alguma coisa? Difícil dizer se a estupidez de ontem é a mesma de hoje.
https://carlosupozzobon.blogspot.com/2013/07/o-opio-dos-intelectuais.html