#Traição
Diante de abusos, omissões e manipulações nos três poderes da República, vemos um ímpeto antiliberal e antidemocrático, que nos causa náusea e nojo
“Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”.
— Ulysses Guimarães
Rememorar a volta dos que não foram, a citar as revoluções francesa e bolchevique, é direito de qualquer um. Em especial de tresloucados que, em 2025, vivem sonhando em séculos passados.
Numa dimensão local, porém representando uma causa nobre, de ideais liberais e democráticos, está a data de 9 de julho. Inspirado nos mártires Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, alvejados em 23 de maio de 1932, o movimento MMDC transformou-se em um símbolo da resistência e do ideal constitucionalista.
A mobilização paulista tenciona avançar sobre a Capital Federal e tomá-la à força, como ocorrera no golpe de 1930, quando o presidente Washington Luís foi deposto. O candidato eleito, Júlio Prestes, não toma posse. Em seu lugar, Getúlio Vargas assume o poder, instala um governo provisório e promete uma nova Constituição para substituir a de 1891.
Pouco mais de um ano e meio, e o povo percebe a enrolação. São Paulo se levanta pedindo uma Constituição legítima, forjada pelo espírito da lei no interesse do bem comum. O olhar paulista se dirige ao futuro, um amanhã que seja promissor para todos os brasileiros. Inicia-se a Revolução Constitucionalista.
Não é difícil imaginar (e sentir) os caprichos de então a gerar indignação popular. Revivemos, mais de nove décadas depois, o mesmo clamor, a mesma sensação de abuso e desrespeito.
A Constituição de 1988, consagrada com suor e dedicação após duas décadas de ditadura, tem sido, com absurda recorrência, desfigurada por interesses pessoais, decisões casuísticas e conchavos políticos. E Ulysses Guimarães bem que advertiu no discurso histórico de sua promulgação:
Traidor da Constituição é traidor da pátria!
Em 1932, São Paulo se levantou em nome de um ideal: uma Constituição legítima, forjada não pelos caprichos do poder central, mas pelo espírito da lei e da vontade popular. Hoje, mais de 90 anos depois, revivemos o mesmo clamor. Diante de abusos, omissões e manipulações nos três poderes da República, vemos um ímpeto antiliberal e antidemocrático, que nos causa náusea e nojo.
Um dos grandes artífices da corrente liberal brasileira foi Armando Sales de Oliveira (1887–1945). Personagem pouco referenciado, mas de valor inestimável para a grandeza política do estado de São Paulo. Sua voz faz eco nos dias de hoje:
Viveremos em regime democrático, se soubermos resguardar a estabilidade e a autoridade do Executivo e fortalecer-lhe os meios de defender a nação, e se soubermos dar vida ao Parlamento, enviando-lhe representantes de partidos políticos, que, firmando-se em largos programas de futuro, não percam de vista as realidades e os fatos e se disponham a agir.1
Jornada Democrática – Armando de Sales Oliveira (1937) Rio de Janeiro: José Olympio.
Parabéns pelo texto, mas triste é o nosso Congresso e nossa liderança política.
A história se repete. E que dessa vez não seja só São Paulo, mas todo o país que se levante contra os que querem usá-lo em benefício próprio.