[Leia a primeira parte do ensaio]
Mas nos ideais de uma Nova Ordem Mundial, balizada de um lado pelos apelos sociais de governos cada vez mais ávidos por controlar nossas vidas em seus mais íntimos detalhes, e por outro, uma ética econômica liberal artificial e mercadológica, existe o germe de nossa própria derrocada, nutrido pelas duas novas ideologias aparentemente opostas:
“No decorrer do século vinte, o liberalismo vem sendo puxado em duas direções ao mesmo tempo: para o mercado e (apesar de sua desconfiança inicial quanto ao governo) para o Estado. Por um lado, o mercado parece ser a personificação ideal do princípio fundamental do liberalismo que afirma que os indivíduos são os melhores juízes de seus próprios interesses e que se deve permitir, portanto, que eles se manifestem quanto a questões que digam respeito à sua felicidade e bem-estar. Mas indivíduos não podem aprender a se expressar, muito menos a alcançar uma compreensão inteligente do que seja a sua felicidade e bem-estar, num mundo em que não existem valores exceto os do mercado. Até mesmo os indivíduos liberais necessitam da disciplina formadora de caráter que a família, a vizinhança, a escola e a igreja oferecem. Todos estes (não apenas a família) têm sido enfraquecidos pela intromissão do mercado, que notoriamente tende a universalizar. Ele não coexiste facilmente com instituições que operam de acordo com princípios antitéticos a si mesmo: escolas e universidades, jornais e revistas, instituições de caridade, famílias. Mais cedo ou mais tarde, o mercado tende a absorvê-los todos. Ele pressiona de forma quase irresistível cada atividade para se justificar nos únicos termos que reconhece: tornar-se uma proposta comercial, pagar a sua parte, escrever com tinta azul a ultima linha do seu demonstrativo de perdas/lucros. Ele transforma notícias em diversão, cultura em carreirismo profissional, trabalho social em gerenciamento científico da pobreza. Inexoravelmente, ele remodela da instituição segundo a sua própria imagem.”
Continua Lasch, mostrando a perniciosa união entre esta elite que clama por liberdade ao mesmo tempo em que joga para o Estado funções e organizações que eram de responsabilidade da própria sociedade:
“Na tentativa de restringir a competência do mercado, os liberais voltaram-se então para o Estado (…) A substituição de tipos informais de associação por sistemas formais de socialização e controle enfraquece a confiança social, desgasta a disposição de assumir a responsabilidade por si próprio e de fazer os outros se responsabilizarem por suas próprias ações, destrói o respeito às autoridades, e assim acaba se autodestruição.”
Aqueles que sentem os impactos destas mudanças são sempre os mais fracos: as crianças e adolescentes que são jogados em um sistema educacional que, ao invés de educar de forma consistente, reforça hábitos e crenças vitimistas, que ao invés de ampliar o escopo cultural do indivíduo, prende este a seu circulo de referências. Neste ambiente, formamos jovens moralmente confusos e com um acentuado egoísmo, individualistas e mesquinhos. Estes jovens:
“…se ressentem com as exigências éticas da “sociedade” como se elas estivessem infringindo os limites da sua liberdade pessoal. Eles acreditam que seus direitos como indivíduos incluem o direito de “criar seus próprios valores”, mas não conseguem explicar o que isso significa, além do direito de fazer o que melhor lhes agradar. Parecem não entender a ideia de que “valores” implicam algum princípio de obrigação moral. Insistem em que não devem nada à “sociedade” – uma abstração que domina as tentativas de se pensar sobre as questões morais e sociais. Se eles se adaptam às expectativas sociais, é só porque esta conformidade oferece a linha de menor resistência.”