#unamuno: John Deely, a inteligência humana e as raízes do Brasil (2)
Eis que começa um movimento de retorno aos princípios
[Leia a primeira parte do ensaio]
– por Alexandre Marques
IV
Uma das maneiras de definir o significado histórico do conimbrences é dizer que ele foi o primeiro programa filosófico a interessar-se consistentemente pelo modo como o pensamento lógico enraíza-se no homem. A ordem tradicional dos estudos lógicos era, e ainda é, começar das regras básicas do raciocínio e daí prosseguir, cumprindo a finalidade da disciplina de ensinar o bom uso da razão. Sem intenção clara de abandonar esse uso, ocorreu, porém, aos mestres de Coimbra, guiados pela inspiração da época e lugar, colocar, ainda de modo tateante, a pergunta preliminar de se o pensamento lógico não estaria fundado em uma operação anterior da inteligência, pré-lógica, mas já não irracional.
É na investigação dessa questão que consiste a semiótica.
A nova disciplina parte da averiguação de que, antes de fazer uma inferência lógica, que vai de um conceito para outro, o homem faz uma inferência a partir de signos (em grego semeion). Ocorre que a inferência por meio de signos tem, com a realidade, uma relação distinta dos conceitos com que opera a lógica. A fumaça não guarda com o fogo a mesma relação que o nome fogo. O conceito de fogo, pressuposto tanto no nome quanto na figura, diz mais a respeito do fogo que a fumaça. A prova é que podemos descobrir aspectos de um fenômeno apenas sabendo que se trata de um fogo (como conhecemos o aspecto de uma pessoa apenas examinando sua imagem), mesmo que não tenhamos uma experiência direta dele.