#unamuno: Machado de Assis na linha da sombra (2)
O Bruxo do Cosme Velho visto pelo prisma de Joseph Conrad.
[Leia a primeira parte do ensaio]
— por Hugo Batista
Quanto à literatura brasileira, pode-se dizer que a bibliografia a respeito de Machado de Assis é insuperável. Com espaço conquistado ainda em vida, ele já era laureado como nosso maior escritor. Mas, apesar dessa unanimidade que dura até hoje, a crítica diverge em muitos pontos fundamentais sobre quem foi Joaquim Maria Machado de Assis. Ainda assim, proponho que nos sirvamos da diversidade de opiniões para embasarmos parte de nossa investigação; utilizando algumas das críticas em conjunto, formaremos um esboço mais ou menos realista da vida de Machado, que será, espero, reveladora para descobrirmos quem ele foi na linha de sombra.
O bom relacionamento com a esposa, as boas amizades e a estabilidade financeira e social, aliados a uma rotina sossegada e inalterável, imprimiam em Machado um aspecto de calmaria de uma pessoa a quem só resta desfrutar aquilo que conquistou o que desejava. Mas, não, a sua obra, o seu meio de verdadeira expressão nos revela o contrário. Sem dúvidas, Machado de Assis estava perturbado de tal modo que ele não poderia deixar que isso ficasse claro e, portanto, a sua dissimulação era uma necessidade, o único meio que esse homem tímido tinha para dizer o que queria sem causar vertigem ao leitor.