#unamuno: Somos Todos Epicuristas (2)
Como uma visão de filosofia triunfou nos séculos XX e XXI
[Leia aqui a primeira parte do ensaio]
*Por Bernardo Lins Brandão
Não é difícil perceber que não foi a evidência científica que consagrou o epicurismo na modernidade. Primeiro, porque o atomismo já existia, desde a Antiguidade, muito antes das evidências para ele. Segundo, porque os primeiros cientistas modernos que o abraçaram o fizeram antes que elas tivessem sido encontradas. Entre eles, podemos nos lembrar de Robert Boyle. Segundo Johnson e Wilson (op. cit.), ”metodologicamente, Boyle parece ter interpretado seus resultados, incluindo seus experimentos com a bomba de ar, em termos corpusculares, em vez de ter efetivamente derivado a teoria de uma base experimental”. E o seu não foi um caso isolado. Ainda segundo Johnson e Wilson, muitos cientistas da época buscaram associar seus experimentos à antiga doutrina de Epicuro, de modo a elevar sua pesquisa à dignidade da filosofia. Os argumentos para o atomismo no século XVII, eles continuam, ainda eram inconclusivos e sua persistência tem mais relação com “o charme da apresentação de Lucrécio e seu apelo à imaginação” do que com os resultados da investigação dos cientistas.
Além disso, no início do séc. XX, mesma época que o imaginário epicurista triunfava como visão de mundo, tomando para si o prestígio da ciência, experimentos científicos manifestavam os seus limites. O artigo de Einstein de 1905 sobre o movimento browniano e sua comprovação em 1909 foram pontos de inflexão para a aceitação do atomismo. No entanto, em 1911, Rutherford propôs seu modelo no qual o átomo é composto por elétrons, prótons e nêutrons. O átomo deixou de ser considerado indivisível e os corpúsculos elementares passaram a ser as partículas subatômicas. A partir daí, nada mais garantia a existência de um nível último da matéria que, de fato, não pode ser empiricamente demonstrado: nos anos 60, afinal, foram descobertos os quarks, que formam os prótons e nêutrons; e só não conseguimos avançar a níveis mais elementares, talvez, por uma limitação de nossos aceleradores de partículas.