#vespeiro: Paulo Francis - O Condenado Profissional
Porque o jornalista mais polêmico do Brasil foi um grande escritor - Parte 2.
[Leia aqui a primeira parte do ensaio]
E o que raios seria essa tal de “Tribo de Dédalo”?, pergunta o mesmo leitor impaciente que, anos atrás, era igualmente impaciente com a ficção de Paulo Francis.
Bem, para quem sofre de amnésia seletiva, a referência é ao personagem mitológico grego de mesmo nome, um arquiteto genial que, entre coisas, criou o labirinto de Cnossos (o mesmo que abrigou, em seu centro, o Minotauro), foi o primeiro aviador da história (apesar de, no processo, ter provocado a morte de seu filho, Ícaro) e entrou para a posteridade como o modelo supremo do artista moderno. Segundo o ensaísta Guy Davenport, em seu sublime livro The Geography of Imagination (1981), no final do século XIX e início do XX, poetas, artistas e romancistas como James Joyce (cujo alter ego era alguém batizado justamente de Stephen Dedalus), Ezra Pound, T.S. Eliot, Picasso, William Carlos Williams, entre outros, formaram essa “república invisível” que, na prática, tinha um código muito particular.
Com seus romances, Paulo Francis passou a fazer parte desta república. O problema é que o seu público não compreendeu nada disso. Viu apenas o outro lado das suas influências, voltadas em sua maioria para o jornalismo – com os nomes de Mencken, Edmund Wilson, I.F. Stone, Millôr Fernandes e Ivan Lessa indo direto para o pódio -, e esqueceu-se que o verdadeiro Francis tinha o desejo de ser uma espécie de Dédalo brasileiro.